Interessa-me pouco se as composições cenográficas de Terrence
Malick são hiperbólicas, redundantes e resultam em longas diatribes estéticas.
A idílica aldeia de Sankt Radegund, na Áustria, início da década dos anos 40 do
século passado, é recriada sobre as extraordinárias imagens de propaganda de
Leni Riefenstahl. «O
Triunfo da Vontade», 1934. O 6° Congresso do Partido Nazi, em Nuremberga. Contra
o horror existe a vontade, ou a teimosia, ou o capricho, ou a objecção de
consciência do agricultor Franz Jägerstätter (August Diehl), que se recusa a
assinar a declaração de lealdade a Hitler, por considerar injusta a pretensão
do carrasco e indigna tal violência sobre os inocentes. Franz é mobilizado e
continua a recusar a assinatura. É preso e condenado. A sua mulher, Fani (Valerie Pachner),
apoia-o até ao último momento contra a comunidade onde vive, contra a
moralidade vigente, contra a sua própria solidão. Contudo, Franz não cede e
deixa três filhas órfãs e uma série de cartas reais trocadas com Fani, nas
quais Terrence Malick se baseia para construir o seu último filme sobre a
importância da consciência, da família e da devoção.
A história real é de tal modo “irreal” e ecuménica que, em
2007, o Papa Bento XVI
autoriza a beatificação de Franz Jägerstätter. Era o mínimo a fazer contra o
esquecimento de um homem teoricamente “santo”. Valeu a pena ver tão belas
paisagens, tão simbólicas recriações da dura vida daquelas gentes, conhecer um inacreditável
episódio de uma guerra indizível.
Valeu a pena ouvir tão bela banda sonora e ver tão bons
actores, entre os quais surge Bruno Granz, militar nazi e juiz,
numa das suas derradeiras representações.
jef, janeiro 2020
«Uma Vida Escondida» (A Hidden Life) de Terrence Malick. Com Matthias
Schoenaerts, Michael Nyqvist, Bruno Ganz, August Diehl,Valerie Pachner, Matthias
Schoenaerts. Fotografia: Jörg Widmer. Música: James Newton Howard. EUA /
Alemanha, 2019, Cores, 174 min.
Sem comentários:
Enviar um comentário