Um filme sobre a dor, a morte e o amor, quando a guerra
termina e pouco resta em torno de uma Leninegrado abalroada pelo vazio da
sobrevivência. Ao hospital afluem doentes e mutilados. Os médicos e enfermeiros
também o são. Duas mulheres procuram uma solução no meio dos escombros: Iya (Viktoria
Miroshnichenko) e Masha (Vasilisa Perelygina). Entre elas uma criança pequenina. Ou a sua ausência. O jovem realizador Kantemir Balagov deixa o som cravar-se no
ecrã e move-se como se não estivesse a utilizar uma câmara de filmar. Coloca-a
junto aos actores, olhando-os, e veste-os, a eles e ao cenário, de verde e
vermelho saturados. Uma complexidade cénica que surge como abstracta, estética,
adensando a aceleração triste das personagens. Pelo meio da tristeza, a cidade
condensa-se como o vapor de água numa superfície fria. A eutanásia é pedida
encarecidamente por quem classifica tudo o que o rodeia como “um lamento pela
guerra”. Uma responsável pela saúde soviética hospitalar distribui presentes
aos estropiados e recebe uma salva de palmas confrangedora. Até Masha resolve
casar, mas quando é apresentada aos futuros sogros as convenções não conseguem ajustar-se
ao seu desejo de fuga, à sua tenaz capacidade de não olhar para trás e de ver o
que ficou irremediavelmente destruído. Marsha volta e encontra Iya de mala
aberta, resolvida a seguir viagem.
A luz impressionista sobre a realidade mais cruel lembra o
mestre do realizador, Alexandr Sokurov, de «Mãe e Filho» (1997), ou o arrepiante
belicismo de «Vem e Vê» (Elem Klimov, 1985), ou a interioridade desalentada e opressiva
de «Dovlatov» (Aleksey German Jr., 2018).
«Violeta» e Kantemir Balagov – um filme e um realizador a relembrar.
jef, dezembro 2019
«Violeta» (Dylda) de Kantemir Balagov. Com Viktoria
Miroshnichenko, Vasilisa Perelygina, Konstantin Balakirev, Andrey Bykov, Kseniya
Kutepova, Igor Shirokov. Argumento: Kantemir Balagov, Aleksandr Terekhov Fotografia:
Kseniya Sereda. Rússia, 2019, Cores, 130 min.
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