Tal como a capa bem nos diz, aqui se reúnem contos, 13,
escritos entre 1996 e 2017, onde Paulo Moreiras vai escrevendo em jeito de
laboratório de ensaio narrativo ou por simples prazer pela história breve. Por
isso, não se pense encontrar aqui algum burro perdido, …«Platero e Eu», diria
Juan Ramón Jiménez.
Aqui o burro não é burro nem teimoso, como explica o autor no
prólogo. O inteligente animal seguia na frente dos homens, cientes da sua
habilidade de caminheiro, pois certamente iria encontrar o melhor dos caminhos para
ser marcado.
Do mesmo modo, Paulo Moreiras durante duas décadas trilhou
esse modo peculiar de escrever pequenas narrativas para ler e sossegar à noite,
entre um universo rural que se enraíza numa memória popular e erudita muito
próprias; a fantasia que os antigos ermos florestais produzia nos sonhos e
pesadelos dos viventes; os doces que nos conventos ancestrais saíam do tédio
religioso; a atmosfera de um mundo urbano que, também ele, talvez já tenha
desaparecido mas que deixou marca na tradição literária portuguesa.
Principalmente, um gosto próprio de lançar sobre a actual
leitura o prazer das palavras caídas em desuso, dos regionalismos sonoramente
atraentes, da vivacidade de nos levar até personagens com nomes que parecem vir
de um outro mundo.
A leitura destas narrativas faz-me recordar tempos idos mas
presentes, como ainda me faz homenagear «As Lendas e Narrativas» de Alexandre
Herculano, «Os Contos Populares Portugueses» de Adolfo Coelho, os «Contos para
os Nossos Filhos» de Maria Amália Vaz de Carvalho e Gonçalves Crespo, «Beco do
Alegrete» de Armando Ferreira ou os «Casos do Beco das Sardinheiras» de Mário
de Carvalho.
Os contos fazem uma bela história na literatura portuguesa.
jef, fevereiro 2022
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