«São fotografias tiradas em Lisboa entre o final da década de 1980 e o início dos anos 90. Das mais de 300 imagens publicadas em livro pela Tinta-da-china foram selecionadas cerca de 80.»
Aprendi
com Daniel Blaufuks, na exposição «Léxico», em Vila Franca de Xira (Outubro,
2016) e, mais tarde, no livro «Não Pai» (Tinta da China, 2019) que o passado ou
os seus estilhaços ou sombras, ficam de certa forma cristalizados
dentro de nós, misturando os respectivos ecos com o que o espaço exterior nos vai impressionando;
mas, igualmente, criando para o espaço que nos rodeia um vocabulário através
do qual agora o justificamos. Contudo, com o tempo, esse vocabulário, esse
léxico muda constantemente, assim como a cidade. Porém, tais ecos e estilhaços,
as sombras do léxico ou da cidade, dentro de nós, revoltam-se e resistem à
mudança. A esse espaço conservador muito íntimo da nossa visão do exterior, os
dicionários dão o nome de Nostalgia.
A
exposição utiliza a palavra, como o autor também explica, que anteriormente era
dada à fotografia: “clichê”, num uso duplicado e irónico do vocábulo, quase
corruptela etimológica.
São
oitenta retratos de rostos ou ruas, imagens clichês de um passado público que
ficou vincado também nas paredes de uma cidade inexistente. A cidade pode já
não existir mas elas, as sombras e os ecos, as fotografias existem na realidade,
presentes, nas paredes reais do museu. Também no véu concreto da nossa
nostalgia.
jef, fevereiro 2022
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