Um filme onde a violência
extrema é a todos níveis condensada no olhar de um adolescente que, no México,
vai recolher os restos mortais de seu pai encontrados numa vala comum. Porém, Hatzín
(Hatzín Navarrete) devolve a urna afirmando haver um erro de identificação e telefona
à avó, com quem vive, dizendo-lhe que aguarda esclarecimentos e até arranjara
emprego. Porém, a determinação férrea de Hatzín fá-lo perseguir um homem que se
parece com a memória que tem do pai. Um homem grande, forte e violento que
possui um esquema atroz de angariação de mão-de-obra escrava para trabalhar nas
fábricas de têxteis onde a exploração, o esgotamento e a morte são apenas
moedas de troca do lucro comercial.
Num filme, onde a palavra
parece recolher-se perante o olhar sagaz e a tenacidade silenciosa de Hatzín,
o realizador deixa ao espectador a solução de praticamente todas as deixas da
intriga. A determinação e o desejo em encontrar um pai são maiores. Porém, nada
parece ser ou estar certo face à entrega a um adolescente quase criança de um
mundo pantanoso e trágico. A morte é apenas um facto concreto e definitivo. Apenas
umas ossadas recolhidas dentro de uma urna. Não interessa muito de quem são. A
verdade perante a raiva da decepção pouco importa. O regresso impõe-se. O
futuro nem tanto.
jef, junho 2022
«A Caixa» (La Caja)
de
Lorenzo Vigas. Com Elián Gonzalez, Hatzín Navarrete, Hernán Mendoza, Cristina
Zulueta. Argumento: Paula Markovitch e Lorenzo Vigas. Produção: Charles
Barthe, Michael Hogan, Kilian Kerwin, Brian Kornreich, Miguel Mier, Alejandro
Nones e John Penotti. Fotografia: Sergio Armstrong. México / EUA, 2021, Cores, 90
min.
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