Este
romance é como aqueles livros de anti-aventuras, o «1984» de George Orwell
(1949) ou o «Fahrenheit 451» de Ray Bradbury (1953). O leitor fica perante (ou
por dentro) de uma realidade que parece ficcionada ou de uma ficção que cheira
a uma fantasia real e expectante.
Existe
um incómodo que ameaça acelerar à medida que as páginas vão sendo viradas. E
acelera mesmo, entre a angústia da espera e a solidão dos refugiados. Como num
belo livro policial com ladrões e carniceiros.
Na
Suécia, seguimos Sara e a sua filha Mariana, por um lado. Por outro, Emanuel, o
marido e pai, que ficou para trás, numa terra poeirenta e desértica, assombrada
por melícias compostas por torcionários armados. Na Península Ibérica, Portugal
e Espanha deixaram as nacionalidades por terra. Quem ali nasceu ficou apátrida. Os governos fantoches protegem-se dentro de bunkers onda a comida e, principalmente a água, são racionadas.
Já
ninguém fala da crise petrolífera. A guerra é feita pela conquista de um pouco mais
de água. Os nórdicos montam campos de refugiados, ou de acolhimento, por
eufemismo, para receber os fugitivos do Sul. A Rússia invadiu a Ucrânia e a
China está a um passo de Taiwan. As convulsões sociais internas ocorreram em
praticamente todos os países após o chamado Primeiro Evento e as Guerras
Meridionais da Água. A bacia mediterrânica é o centro da catástrofe.
O
mundo desaba enquanto os refugiados contam cada vez menos aviões que transportam
sobreviventes para os locais ligeiramente mais seguros. O presente apenas aguarda,
o futuro não é garantia.
Este
livro tem uma missão ecológica de alerta mas não deixa de ser um romance
escrito ao sabor lógico e perfeccionista da bela escrita do autor. João Reis é
um escritor empenhado na boa literatura (e nas melhores traduções), também nas causas
que transcendem a humanidade. Cada livro seu é uma brilhante novidade e uma descoberta
para o leitor entusiasmado.
jef, junho 2022
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