O
texto em octossílabos vem do livro do trovador francês do final do século XII, Chrétien
de Troyes, e conta a história de um jovem determinado mas ingénuo por
excessiva protecção materna, que resolve ir conhecer o mundo sem fim que gira em torno
da gesta da cavalaria, da sua moral, do seu amor, da sua lealdade. O santo
Graal está lá, assim como o Rei Artur, mas o que interessa mesmo é a devoção de
Perceval por uma aventura que está contida, digamos concentrada, na declamação
sintomática daquela poesia. O cenário é um modo de localizar a atenção no teatro
que é a própria representação, que, afinal, é a própria verdade escutada.
Perceval
toma à letra as indicações maternas e prossegue viagem, de aventura em
aventura, de aprendizagem em aprendizagem, até esquecer o centro do mundo que é
a sua mãe, até olvidar o próprio Deus a quem devia plena devoção.
Nesse
momento a sua consciência será a sua penitência e redenção. Vê-se confrontado
com aquela tarde santa em que Jesus é sacrificado pela ideia que lhe foi
confiada. Perceval é Jesus e é morto. Assim renascerá Perceval perante o mundo
e, assim, a viagem prosseguirá eternamente.
Pela graciosidade quase infantil com que esta história nos é contada, tocada e cantada, na
minha memória, colocarei este filme muito junto de um outro monumento do cinema-teatro
musical que é «A Flauta Mágica» de Ingmar Bergman (1975).
jef,
maio 2022
«Perceval,
o Galês» (Perceval le Gallois) de Éric Rohmer. Com Fabrice Luchini, André
Dussollier, Solange Boulanger, Catherine Schroeder, Francisco Orozco, Deborah
Nathan, Jean-Paul Racodon, Alain Serve, Daniel Tarrare, Pascale Ogier, Nicolaï
Arutene, Marie Rivière, Pascale Gervais De Lafond, Marc Eyraud, Jocelyne
Boisseau. Argumento: Éric Rohmer a partir do romance de
Chrétien de Troyes. Produção: Margaret Ménégoz e Barbet Schroeder. Fotografia: Néstor
Almendros. Música: Guy Robert. Guarda-roupa: Jacques Schmidt.França / Alemanha,
1978, Cores, 140 min.
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