sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Sobre a apresentação do # 5 de «A Morte do Artista». Biblioteca Palácio Galveias, 22 de Outubro de 2022, 16h00. Lisboa.

 



















Para que não fiquem dúvidas, o editorial do #5 é muito pragmático:

«Nós, que somos politicamente concretos, na época do degelo, calçámos os pneus de chuva, tirámos a carta de condução para veículos anfíbios, vendámos os olhos para ver melhor o lado de dentro, e zarpámos por aí a fora, numa caravana dismórfica, feita de quem se queira juntar.

E, a partir de então, os verdadeiros e inconformados contestatários serão aqueles que, por teimosia ou hábito, insistem em circular sempre na mesma direção. Todo este processo, claro, provoca acidentes e vítimas morais. Se a regra é subverter as regras, todos têm eventualmente razão. Resta-nos escrever uma declaração amigável em versos alexandrinos (também pode ser uma declaração de amor!) e depois queimá-la como faziam os profetas da arte efémera.

Se formos muitos a acelerar em contramão, acabaremos por mudar o sentido do mundo.»

José Eduardo Agualusa é o nosso querido (e viajado continental) artista consagrado que nos entrega a história «A Ilha Submersa». Abílio de seu nome.

Pires Laranjeira enquadra a obra do autor de forma simples e completa. Com ele, compreendemos o país e a escrita de um dos autores mais importantes da língua portuguesa.

Dorit Zilberman relata uma viagem entre quatro paredes israelitas pois a pandemia resguardou, subtraindo, o mundo a essas duas almas que envelhecem amando.

Paulo Kellerman Faz-nos caminhar apena numa direcção mas que, por sinal e por fim, se contradiz nos opostos dos seus dois sentidos.

O poeta-músico, Luca Argel, serve-nos, entre os seus poemas, o poeta com batatas e molho de alcaparras. O Brasil fica órfão quando perde para sempre o número do telefone fixo.

Filomena Marona Beja escreve um conto através da sua escrita arquitectonicamente sintética sobre um caso de discriminação e perseguição social. Algures em Portugal. 

Ricardo Tiago Moura fala-nos poeticamente da contagem brutal do tempo que, no fundo, se restringe e contrai sobre a derradeira hora onde se encontram todos os logros.

Gaëlle Istanbul escreve sobre a finalidade cabal (talvez vã) do nascimento e do seu caminho retrógrado através das sombras do presente, até uma outra dimensão.

Amosse Mucavele reinventa o velho embuste matrimonial e a origem de uma certa mentira fronteiriça, também a dor dos cinéfilos.

Paola D’Agostino faz renascer a esperança na idade que conta. A Rita e a Senhora Dona Isabel, sua tia-avó, que se cansa de andar sempre bem-disposta.

Carolina Furtado Freitas conta a história de um livro escondido e de uma alma perseguida. As aves, guardado muito junto ao peito.

Cláudia Clemente conta a historia de um 5º Esquerdo e de quem lhe mora ao lado, incessante, inconstante, inconsequente. Revoltada.

João Vieira, entre didascália, relata a história de ELE ou ELA POR ELE em que de batom em riste ouve Marlene Dietrich: “Para onde vão todas as flores?”.

Vítor Encarnação descreve-nos as diversas dimensões de uma árvore: a memória, o trauma, o sonho, a quimera, a afronta, o medo…

Joel Neto redige um libelo pelos Açores, contra o isolamento, contra o nepotismo, contra o essa visão plastificada do luso paraíso. Um apelo talvez polémico, certamente urgente.

Inez Caria enche plasticamente o #5 da revista, do fanzine, do jornal, do pasquim, da revista com os seus desenhos recortados na abstracção figurativa que tem tanto de líquido quanto de hipnótico.

Por fim, em contramão, os artistas mais que moribundos, reunidos: Fernanda Cunha, Manuel Halpern, Paulo Romão Brás, também este que assina João Eduardo Ferreira, compõem o modo gráfico e reescrevem sobre a tragicomédia que é a via pública traçada por autoestradas e passadeiras de peões, pela travessia, pelo susto, pela contramão em movimento uniformemente acelerado.

E assim, de novo em Outubro, o mês do suave Outono luminoso, «A Morte do Artista» #5 será apresentada na Biblioteca do Palácio Galveias, em Lisboa, no dia 22, pelas 16h00. Haverá drama, convívio, conversa, refrescos e biscoitos.

Apareçam!


jef, outubro 2022

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