quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Sobre a cassete «Gravidade» dos Knok Knok, Base Recordings, 2021

 

 






2017 – 2021. Quatro anos depois, os Knok Knok apresentam uma nova cassete com o título «Gravidade». A capa é desenhada pela artista Yara Kono.

Se esta “electrónica” de Armando Teixeira tecida sobre a “acústica” de Duarte Cabaça poderia, à partida, sugerir o aprofundar de um mundo distante, onírico, futurista ligado à ficção científica cinematográfica, numa abstracção que nos levantaria os pés do chão em acto de imponderabilidade ‘gravidade zero’, a verdade é que o álbum intitula-se, bem pelo contrário, «Gravidade», ou seja, 9,8 multiplicado pela massa do corpo, se a estivermos a medir na superfície do planeta Terra.

Tudo isto para dizer que, por mais etérea que seja a índole a que se expõe esta música, Armando Teixeira e Duarte Cabaça não conseguem reprimir uma certa rebeldia, diria quase pueril, de subverter o cânone seriíssimo com que muitas vezes é olhada certa música electrónica.

Essa erudição apócrifa vem aqui prateada pela bola de espelhos, colorindo a pista de dança («Osso Rugoso»), ou até sublinhando certos sonhos infantis e aquáticos, quando as crianças ainda adormeciam depois de lerem os episódios das «Vinte Mil Léguas Submarinas» de Júlio Verne («Centopeia»).

A gravidade da Terra e a perfeita imperfeição humana contida na melhor acção lúdica musical.

Sugerem Armando Teixeira e Duarte Cabaça: de pés bem assentes num planeta defeituoso, esqueçam a memória musical do passado ou a sua expectativa futura. Usem a gravidade do som presente e divirtam-se enquanto é tempo!

 

jef, outubro 2022

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