Esta
é uma história simples, uma história sobre um Alentejo longínquo, talvez um
Alentejo ainda hoje lonquínquo. Uma terra onde diversas pessoas sobrevivem num
cenário que é, o próprio, o personagem determinante, condicionante que obriga
as gentes a longos percursos ao sol a pique ou ao luar e sombras, que os obriga
aos pensamentos e ao silêncio. Diversos contos, como parábolas bíblicas ou
episódios quixotescos, cruzam-se, mais próximos ou mais afastados do polígono
militar de Cercal Novo. Também rondando Cimadas com a revolta das mulheres, a
taberna ou o poço onde a Guarda prende os cavalos e vigia os suspeitos que os
vigiam; rondando o Lavre, Montemor, Beja, onde o espectro dos malteses
famintos, em demanda por trabalho, se cruza com o dos ciganos. Aqui são todos
nómadas. Seguimos os passos de Aníbal que segue ele a fraqueza do Portela.
Aníbal deseja ir reclamar a pensão por sustento já que lhe levaram Abílio, o
filho-soldado. O Portela talvez um dia se decida a vender os folhetos de Abílio
com as lendas e narrativas de reis, fidalgos e corcundas…
Tudo
escrito com a beleza e o rigor de frases sumárias, de diálogos cortantes, infalíveis. Acima de tudo, a história de uma amizade sustentada apenas na
ternura respeitosa que vem obrigada de tal solidão maior.
Um
romance talvez mais naturalista do que neorrealista.
Um
romance de uma candura maravilhosa, sob a escrita milimétrica do escritor. Do
eterno José Cardoso Pires.
jef,
setembro 2023
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