Será
mesmo este filme uma comédia sobre a importância filosófica do “acto falhado”? Um assassino
ultra-profissional a mover-se na esfera mafiosa dos altos dólares, um ser gélido,
quase oriental, paciente, matemático, cauteloso, calculista, implacável, de
olhar vítreo sobre os corpos mortos e os corpos vivos, falha um golpe há muito
estudado e, para ele, aparentemente de fácil execução. Afinal ele tem
um coração romântico e uma mansão-esconderijo demasiado exposta na República
Dominicana. Conseguirá o belíssimo Michael Fassbender suportar a longíssima
sequência de episódios sangrentos daquela missão impossível, sem mudar de
expressão e repetindo em voz off a mesmíssima frase comportamental durante
cerca de duas horas? Por que razão agarra ele um ralador de cenouras em vez de
uma faca eléctrica? Por que razão, quase “criminosa”, se desperdiça os poucos
minutos da aparição de Tilda Swinton?
Enfim,
entretém bem a matiné dominical via netflix mas não satisfaz e até irrita um
pouco a narrativa rápida e presunçosa. Sobretudo, faz-nos ir a correr rever Michael
Fassbender em «Fome» (Steve McQueen, 2008) e Tilda Swinton em «A Voz Humana»
(Pedro Almodóvar, 2020).
jef,
novembro 2023
«O
Assassino» (The Killer) de David Fincher. Com Michael Fassbender; Tilda
Swinton; Charles Parnell, Arliss Howard, Kerry O'Malley, Sophie Charlotte, Emiliano
Pernía, Gabriel Polanco, Sala Baker, Endre Hules, Bernard Bygott, Monique
Ganderton, Daran Norris. Argumento: Andrew Kevin Walker baseado no romance gráfico
de Alexis Nolent e Luc Jacamon. Produção: William Doyle e Peter
Mavromates. Fotografia: Erik Messerschmidt. Música: Trent Reznor, Atticus Ross.
Guarda-roupa: Cate Adams. EUA, 2023, Cores, 118 min.
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