Do
realizador Dominik Moll a minha memória vai directamente para o filme «Harry, um
Amigo ao seu Dispor» (2000), um thriller
psicológico inclassificável, inquietante, inesquecível, que oferece ao
actor Sergi Lopez (Harry) o papel da sua vida, entre a comédia trágica, a
esquizofrenia delirante e a mortal obsessão.
Com
«A Noite do Dia 12», o realizador volta ao percurso através do interior das
personagens pela via mais difícil: como epígrafe, ele logo nos apresenta a
inconclusão do desfecho, o de um crime por desvendar. Quase todo o filme revela
as marcas psicológicas que esses casos deixam até nos investigadores e polícias
mais experientes. Por essa inconclusão, os espaços abertos em torno da estação
de ski parecem confluir na claustrofobia obsessiva da investigação ou nos exíguos espaços onde são feitos os interrogatórios e os polícias vivem em casulo.
Pouco
se revelará se se disser que o caso gira em torno do cadáver de Clara (Lula
Cotton-Frapier), encontrado na noite do dia 12. Clara, queimada viva. Clara, inteligente
e alegre, que teria uma queda para se apaixonar facilmente por bad boys. Os suspeitos são muitos, as
dúvidas ainda mais. As sequelas psicológicas do vazio da investigação no jovem
investigador chefe Yohan (Bastien Bouillon), em Marceau (Bouli Lanners), nos
restantes polícias ou até na juíza (Anouk Grinberg) são imensas e
ultrapassam-nos.
De novo, Dominik Moll conta-nos uma história no modo “realista” transformando um filme supostamente policial numa viagem pelos interstícios emocionais de quem lida por profissão com a morte infligida, as suas causas, as suas consequências. Um filme a não perder.
jef,
novembro 2023
«A
Noite do Dia 12» (La nuit du 12) de Dominik Moll. Com Bastien Bouillon, Bouli
Lanners, Théo Cholbi, Johann Dionnet, Thibaut Evrard, Julien Frison, Paul
Jeanson, Mouna Soualem, Pauline Serieys, Lula Cotton-Frapier, Charline Paul, Matthieu
Rozé, Baptiste Perais, Jules Porier, Nathanaël Beausivoir, Benjamin Blanchy, Pierre
Lottin, Camille Rutherford, David Murgia, Anouk Grinberg. Argumento: Gilles
Marchand e Dominik Moll segundo o romance de Pauline Guéna. Produção: Caroline
Benjo, Barbara Letellier e Carole Scotta. Fotografia: Patrick Ghiringhelli. Música:
Olivier Marguerit. França / Bélgica, 2022, Cores, 115 min.
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