Nos últimos meses, a Itália persegue-me (e bem) cinefilamente. Qualquer coisa faz sentido entre «O Leopardo» (Luchino Visconti, 1963), «Marcha sobre Roma» (Mark Cousins, 2022) ou «O Sol do Futuro» (Nanni Moretti, 2023). E agora esta peça teatral de Francesco Rosi, «Salvatore Giuliano».
A questão siciliana num mundo neo-realista
entre as montanhas e o tribunal, entre a população de Montelepre que protege com garras e dentes um filho da terra que se torna chefe de um bando resistente ao
poder italiano e que luta pela independência da ilha no pós-guerra. Salvatore
Giuliano, que ao espectador apenas surge como cadáver, chorado, beijado e
carpido por sua mãe, tornado um resistente sobrevivente, chefe de um grupo de
bandidos que dilacera à metralha uma pacífica manifestação-piquenique promovida
pelo Partido Comunista Italiano no 1º de Maio.
Tudo
realizado na lógica operática em que o coro feminino das mulheres aldeãs não
actrizes rivaliza com o coro masculino dos rapazes não actores que se agrupa em
torno do protagonista-ausente, numa movimentação febril de massas tendo por
palco um gigantesco cenário. Sobre essa gestão (soberba) do espaço mais amplo (ou
mais restricto) onde se situa a acção dos grupos não profissionais é,
ainda, impossível não me recordar, por exemplo, de «A Terra Treme» (Luchino
Visconti, 1948) ou de «Ladrões de Bicicletas» ou de «Milagre de Milão» (Vittorio
De Sica, 1948, 1950).
Aqui,
é o teatro no mundo centrado na procura do seu propagonista!
jef,
outubro 2023
«Salvatore
Giuliano» de Francesco Rosi. Com Salvo Randone, Frank Wolff, Pietro Cammarata,
Sennuccio Benelli, Pippo Agusta, Sennuccio Benelli, Pietro Cammarata, Max
Cartier, Nando Cicero, Pietro Franzone, Giovanni Gallina, Vincenzo Norvese, Carmelo
Oliviero, Renato Pinciroli. Argumento: Francesco Rosi, Suso Cecchi D'Amico,
Enzo Provenzale, Franco Solinas. Produção: Franco Cristaldi. Fotografia:
Gianni Di Venanzo. Música: Piero Piccioni. Itália, 1962, Cores, 123 min.
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