L’Adamant
não será propriamente um barco. É uma estrutura arquitectónica flutuante
ancorada na margem do rio Sena que abre portas pela manhã a um grupo de pessoas
que ali convivem, reúnem, discutem, dão azo à sua criatividade artistíca: médicos,
psicólogos, auxiliares e doentes. Doentes que, conscientes da sua própria estranheza
interior, não desdenham o lado colectivo que L’Adamant lhes oferece, que os
atrai, distrai e motiva mas que também parece navegar em contra-corrente com o
seu outro lado interior profundamente exuberante e rico mas também
desesperadamente triste, para não dizer depressivo, coisa que possivelmente será a
coisa que a todos liga.
Um
filme que começa com uma canção exasperadamente cantada apelando ao espectador para
a não desistência – este que é o melhor epílogo do filme que o apresenta como
epígrafe. Todo o filme é conduzido pelo lado "oposto"..
Um
filme que nos transporta para o enorme universo incompreendido da “loucura”
considerado, tantas vezes, como descartável pela aceleração acéfala do mundo social
dito normal.
Um
filme que nos entrega essa tristeza sublime carregada de afecto e de dádiva sem
julgamento.
Um
filme que nos faz compreender aquelas pessoas maiores no sentido próprio do
verbo que é o de nos integrar num mundo diverso e de tão difícil convivência. Um mundo
tão solitário mas universal.
Um
filme cheio de tempo e de ternura.
Um
filme a não perder para também entendermos a loucura normal e cega do dia-a-dia.
jef,
outubro 2023
«Sobre L'Adamant» (Sur l'Adamant) de Nicolas Philibert. Com Mamadi Barri, Walid Benziane, Sabine Berlière, Romain Bernardin, Charafdine Bouzaraa, Linda De Zitter, François Gozlan, Jean-Paul Hazan, Pauline Hertz, Érik Ménard, Nicolas Philibert, Frédéric Prieur, Muriel Thourond, Sébastien Tournayre. Argumento: Linda De Zitter e Nicolas Philibert. Produção: Céline Loiseau, Miléna Poylo, Gilles Sacuto. Fotografia: Nicolas Philibert. França, 2023, Cores, 109 min.
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