sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Sobre o filme «Regresso a Ítaca» de Laurent Cantet, 2014














Ítaca é um lugar estranho. Assim também é Havana.
Lugares onde permanece a nostalgia de um regresso impossível. Lugares de exílio, de remorso, de dúvida, de reencontro com um passado que ficou por esclarecer. 
Espaços de heróis que traíram ou talvez nem tanto.
Eles recordam o instante em que acreditaram, em que só podiam acreditar e foram felizes. Reconhecem que o presente os desilude e que a desilusão é o princípio do abandono. A juventude passou. Agora estão sozinhos e não entendem porque Amadeo (Néstor Jiménez) deseja regressar para escrever, ao fim de 16 anos. Talvez lhe invejem a determinação, mas o facto confronta-os com a actualidade estagnada.
A razão revela-se e não é tranquilizadora. A confiança é posta em causa. A amizade permanece mas não traz a juventude de volta. O silêncio pesa, assim como a alvorada.

Pena o realizador não tirar partido dos actores que se movimentam no terraço como numa «jaula cenográfica». Isabel Santos (Tania) e Néstor Jiménez são especiais. Pena também que não recorra mais ao vigor das palavras do escritor Leonardo Padura que colabora no argumento e cede a ideia original. 

Havana merecia emocionalmente mais!

jef, agosto 2016

«Regresso a Ítaca» (Retour à Ithaque) de Laurent Cantet. Com Isabel Santos, Jorge Perugorría, Fernando Hechavarria, Pedro Julio Díaz Ferran, Néstor Jiménez. França / Bélgica, 2014, Cores, 95 min.

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