Tenho dificuldade em compreender o último filme de Jia
Zhang-ke sem que a minha memória não regresse ao disco de capa de plástico
cor-de-laranja que os Pet Shop Boys editaram em 1993. «Very». No final trazia
um dos maiores ícones na banda britânica. «Go West». Por acaso, canção roubada
aos Village People, lançada em 1979, lá pelo Oeste Selvagem.
Nessa altura, por ironia, o longo videoclip dos Pet Shop Boys
devolvia a iconografia criada por uma certa revolução vermelha acontecida
mais a Este.
Enfim, um anacronismo que me levou a reflectir nessa
particular forma de Jia Zhang-ke filmar a difícil arte do trabalho, do amor e
dos imensos territórios.
Já nos magníficos «Still Life – Natureza Morta» (2006) e «24
City» (2008), a luta pelo sustento e pela família caracterizou um novo
rumo «modernista» e de «dessintonia» do cinema social. Os tempos não correspondem
à nossa vontade mas sim à agressiva realidade das migrações humanas.
Assim também é no belíssimo e perturbado melodrama «Se as
Montanhas se Afastam». O tempo afasta-se como as placas na tectónica, perdido
nos vastos continentes, dessincronizado dos afectos, levados pela necessidade
do trabalho e pelos comboios. Sincronizado no desejo de «Go West».
1999.
2014. 2025. São estes os tempos do filme.
Magnífica é a figura central, Shen Tao, o centro da
«estabilidade» de um certo triângulo, interpretada por Tao Zhao.
Jia Zhang-ke, um realizador cá dos meus.
jef, setembro 2016
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