Romantismo? Deixemo-nos de falácias e mal-entendidos…
«Recuso-me a associar romantismo a
violinos, varandins e álcoois espirituosos, em fundo de lua. Para mim, é aquilo
que me ensinaram na escola: arroubos de sentimento e atitudes, palavreado
altissonante, espadeiradas, mortes prematuras, suspiros enlanguescidos,
exaltações nacionalistas e ruínas fabricadas. Cumpriu, passou, vislumbra-se a
acenar de lá, entre despojos da História, vai-se buscar quando for necessário.
Mas não faz nenhuma falta num prélio deleitado de corpos.»
O mote está dado!
O corpo de um homem ao encontro (ou
desencontro) do corpo de uma mulher. Só isso. Não é coisa para a qual devesse
contar o cenário, ou o romantismo, que ficaria para mais tarde, na Poética,
segundo o velho Aristóteles.
Mas, afinal, sempre haverá mais.
«Em alturas destas, emerge algures,
no cérebro masculino, o repisar de certa incomodidade recôndita: a da absoluta
irrelevância da sua presença. Certo que o corpo está lá, cumprindo mal ou bem,
a obrigação que lhe cabe, com mais ou menos denodo, mas é um pouco como o tipo
que levanta e baixa as bandeiras nas corridas. O tumulto, o que verdadeiramente
treme e ruge, não parte dele.»
São 16 histórias (com algumas mais
mulheres «em flor»), digamos crónicas de sexo anunciado – e um epílogo circunstanciado –,
que medem o correr dos dias de um homem com família, modos e medos normais. Um homem
com desejos e consciência. Um homem que pratica porque a vida não é só teoria.
Porque um homem também é «fisionomia».
«O prazer que se tem está, sobretudo,
no prazer que se dá.»
(Por estas e por outras, Mário de
Carvalho continua a ser um dos meus mais dilectos escritores. E que fique ele
sabendo o prazer tanto que me dá em ler as suas linhas. Sinceramente, espero
que tanto prazer tenha sofrido em as escrever…)
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