Autor revolta-se
contra o estatuto do
leitor. Como é óbvio, o autor pretende que os leitores abusem da capacidade,
por hipótese ilimitada, que têm para interpretarem a realidade através dos
textos que lhes estão pela frente. Por essa razão, Donald Barthelme (1931-1989)
abusa da capacidade que possui para narrar situações que colocam o tal leitor
sob a explicação do próprio coração, da própria pele. Parece estar a solicitar
ao leitor: «explica-me agora a tua cabeça, as tuas mãos». O leitor fica sozinho
a ouvir-se
(na página 193) «, e
eis que Ludwig cai através da Villa Tugendhat e mergulha na história dos
artefactos humanos; uma desilusão, sem dúvida, mas recorda-nos que a frase em
si é um artefacto humano, não aquele que desejámos, é claro, mas, ainda assim,
uma construção humana, uma estrutura que devemos acarinhar devido à sua
fraqueza, por oposição à solidez das pedras»
E se eu falar em Boris
Vian («O Arranca Corações») ou Flann O´Brien («Uma Caneca de Tinta Irlandesa»)
não estarei a comparar mas a reduzir o mundo sem fim destas histórias para
pessoas em estado de agitação semântica. Barthelme não é paternalista, nem
pedagogo, nem sério, nem irónico, é um escritor que pretende muito mais da leitura
da América e do Mundo. (E, caramba, que não lhe chamem «surrealista»!)
[A tradução aqui é
tarefa árdua e está muito bem entregue a Paulo Faria. Caso se pretenda melhor
publicidade, leia-se o artigo que Pedro Mexia publicou no Expresso, por altura
da edição deste livro.]
Um ano depois, a
Antígona Refractária edita do autor «60 Histórias». Ainda não li.
jef, setembro 2014
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