Pode o disco não mudar o rumo da canção cabo-verdiana.
A música popular vive o drama de não ceder às peias
que a fixam à tradição mais arreigada e, ao mesmo tempo, não resistir a mudar
aquilo que tem de ser mudado a cada nova gravação. Se já foi cantado por que cantar
de novo?
Criatividade a quanto obrigas!
O disco não é bem nacional cançonetismo. Não são bem mornas.
Nem jazz, nem fado, nem bossa nova. Tudo se aproxima mais da canção de embalar enlevada
pelo timbre de Tété Alhinho, terno, um tanto sussurrado, por vezes trémulo, sem
altercações modernistas ou requebros «soul» de trazer por casa. A cantora tem
uma longuíssima tarimba no mundo da canção, sabe bem o que faz e,
principalmente, sabe melhor o que gosta de cantar. Promove o disco por
crowdfunding e vence. Prossegue o seu caminho sem alaridos e traz o seu modo
particular às pautas de B’Leza, Mário Lúcio Sousa, Daniel “Hhela” Spencer,
Paulino Viera, Jacinto Estrela, Antero Simas e da própria Tété Alhinho.
São apenas saudosas e novas melodias acompanhadas a piano
(Carlos Matos, Ricardo de Deus, Victor Zamora), contrabaixo (Carlos Barretto,
Francelino Silva), percussão (N’du Carlos, Paulo Charneca, Rob Leonardo),
cavaquinho (Jon Luz), violino (António Barbosa) e guitarra (Américo “Meca”
Lima).
Mas quem não as consiga dançar ou não se permita chorá-las,
então que adormeça no seu colo. Foi também para embalar que Tété Alhinho as
entoou. E se nada sentir ao ouvir «Sina de Cabo Verde», «Sodade Tem Pena de
Mim» ou «Talvez», então aconselho a telefonar ao cardiologista de estimação a
solicitar um transplante com urgência.
Quem não perceber que «Lua Bonita», da autoria da Tété
Alhinho, é mesmo uma extraordinária morna, então que vá ao otorrino!
jef, abril 2017
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