Sobre
este filme perfeito não há muito a dizer. Só a contemplar.
Romeu
e Julieta, Pedro e Inês, Tristão e Isolda. Mohei (Hasegawa Kazuo) e Osan (Kagawa
Kyôko). A tragédia da paixão saldada perante a sociedade pelo sacrifício dos
amantes.
Kenji
Mizoguchi revela a eterna ferida do amor desencontrado com a mais fina elegia.
Resume a beleza dessa imolação, traduz toda a poética dramática da humanidade
num amor que só é alvejado a meio do drama, sobre uma barca, em fuga, adiando o
desfecho na perpetuidade de uma fugaz declaração de amor.
Tudo termina ali.
Tudo aí começa. O amor eterno é findo!
O
espectador sabe-o pois, até ali, assistiu a uma espécie de comédia de costumes, com troca
de identidades, estatutos sociais, sucesso laboral, amabilidade e alegria e,
na breve e descomunal cena, confronta-se com a inevitabilidade da tragédia.
Só a fuga está reservada aos amantes mas, todos sabemos, a sociedade é
implacável e não admite insurrectos.
Assim
sempre foi declarado o sofrimento do amor por todo o teatro clássico, o
existencialista, e o demais, o oriental e o ocidental. Apenas a chama da
serenidade é colocada, como ponto final, com a execução da pena. Como acontece na irreverente paixão de Jesus Cristo.
Contudo,
em «Os Amantes Crucificados», Kenji Mizoguchi faz ecoar a beleza total como
salvação do mundo, expondo “politicamente” a iniquidade da sociedade à verdade absoluta
do Amor.
Um filme a guardar num recanto muito especial do coração.
jef,
abril 2017
«Os
Amantes Crucificados» (Chikamatsu monogatari) de Kenji Mizoguchi. Com Hasegawa Kazuo, Kagawa Kyôko, Minamida Yôko; Shindô Eitarô, Ozawa Eitarô; Sugai
Ichiro, Tanaka Haruo; Ishiguro Tatsuya. Argumento: Yoda Yoshikata e Matsutarô
Kawaguchi a partir da peça de Monzaemon Chikamatsu, fotografia: Miyagawa Kazuo,
montagem: Suganuma Kanji, produção: Masaichi Nagata / Daiei Studios, música: Hayasaka
Fumio. Japão, 1954, P/B, 100 min.
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