Não basta buscar um tema da moda
(e ainda bem que o é!) – a transexualidade na adolescência – para que um filme
passe a ser bom.
Não basta colocar actrizes de primeira
água em confronto – Elle Fanning (Ray / Ramona), Naomi Watts (a mãe solteira
com dúvidas sobre a paternidade do filho / filha), Susan Sarandon (a avó
lésbica que não aceita a transexualidade), Linda Emond (a namorada da avó) –
para que estas actrizes consigam representar. E bem que elas se esforçam
tentando dar corpo a um texto sem uma tirada de jeito.
Não basta fotografar a belíssima luz
crepuscular de Nova Iorque e uma casa antiquíssima, de arquitectura maravilhosa,
três ou quatro pisos abertos e interligados por escadas, esconsos e janelas
promissoras frente à paisagem que lhes está fora, para que uma peça de teatro “em
estrado isabelino” tenha crédito.
Não basta opor comédia e tragédia
alternadamente, e em modo «fast-comedy», para dar textura ao melodrama. É preciso dar
tempo aos olhares, às expressões, às peripécias, aos mal-entendidos para que a narração
faça sentido. É preciso dar tempo ao Cinema.
Não basta confundir temas, juntar
paradoxos, baralhar assuntos e, no fim, colocar um improbabilíssimo «happy end».
Não há ninguém que não conheça os difíceis trâmites subterrâneos da ansiedade
familiar. O cinema precisa de fina construção, como a literatura, para que o
espectador sinta dele a retórica proposta e aceite a improbabilidade da ficção.
Contudo e por fim, basta a generosa proposta
política do tema para um telefilme a ser visto no domingo de uma TV
em depressão e admirar os belos rostos das personagens / actrizes por quem é
tão fácil apaixonarmo-nos.
jef, julho 2017
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