terça-feira, 25 de julho de 2017

Sobre o filme «3 Gerações» de Gaby Dellal, 2015


Não basta buscar um tema da moda (e ainda bem que o é!) – a transexualidade na adolescência – para que um filme passe a ser bom.

Não basta colocar actrizes de primeira água em confronto – Elle Fanning (Ray / Ramona), Naomi Watts (a mãe solteira com dúvidas sobre a paternidade do filho / filha), Susan Sarandon (a avó lésbica que não aceita a transexualidade), Linda Emond (a namorada da avó) – para que estas actrizes consigam representar. E bem que elas se esforçam tentando dar corpo a um texto sem uma tirada de jeito.

Não basta fotografar a belíssima luz crepuscular de Nova Iorque e uma casa antiquíssima, de arquitectura maravilhosa, três ou quatro pisos abertos e interligados por escadas, esconsos e janelas promissoras frente à paisagem que lhes está fora, para que uma peça de teatro “em estrado isabelino” tenha crédito.

Não basta opor comédia e tragédia alternadamente, e em modo «fast-comedy», para dar textura ao melodrama. É preciso dar tempo aos olhares, às expressões, às peripécias, aos mal-entendidos para que a narração faça sentido. É preciso dar tempo ao Cinema.

Não basta confundir temas, juntar paradoxos, baralhar assuntos e, no fim, colocar um improbabilíssimo «happy end». Não há ninguém que não conheça os difíceis trâmites subterrâneos da ansiedade familiar. O cinema precisa de fina construção, como a literatura, para que o espectador sinta dele a retórica proposta e aceite a improbabilidade da ficção.

Contudo e por fim, basta a generosa proposta política do tema para um telefilme a ser visto no domingo de uma TV em depressão e admirar os belos rostos das personagens / actrizes por quem é tão fácil apaixonarmo-nos.

jef, julho 2017

«3 Gerações» (3 Generations) de Gaby Dellal. Com Naomi Watts, Elle Fanning, Susan Sarandon, Linda Emond, Tate Donovan e Sam Trammell. EUA, 2015, Cores.

Sem comentários:

Enviar um comentário