terça-feira, 4 de julho de 2017

Sobre o disco «Mim Ê Bô» de Tito Paris. Ruela Music / Sony, 2017















Há 15 anos que Tito Paris não gravava um disco de originais.
Esperámos 15 anos pela voz rouca, suave, terna, que acarinha antes de cantar. Esperámos mas agora arrecadamos.
Lisboa, porque é difícil pensar na noite lisboeta sem Tito Paris, Lisboa bem aguardou pela sua forma estranha de colocar, em simultâneo, a música cabo-verdiana no centro de todas as latitudes crioulas: a morna, o bolero, a bossa nova, e até aquele «groove» à Manu Dibango («Bô» dançado em conjunto com Boss AC).
Mas no centro do centro está, para mim, essa faixa, «Resposta de Segredo cu Mar» de B.Leza, que Tito Paris canta com Bana, uma morna-fado-canção, onde os arranjos de cordas (Tomás Pimentel) e metais (Yan Mikirtumov) dão a poética do cançonetismo a um dueto irrepetível.
Se falo no trompetista Tomás Pimentel é com a justiça de sublinhar anos de trabalho e sensibilidade em redor da música africana (e da outra). Tomás Pimentel, responsável pelos arranjos de metais e cordas, leva o álbum para um mundo belo mas estranho, entre o sinfónico e a canção nostálgica («Fado Triste» de Vitorino).
Quanto mais busca formas de expressar a voz do Mindelo e da ilha de São Vicente, mais Tito Paris se próxima da tradição. «Ilha na Meio d’Oceano» tira-nos as dúvidas, «Mim Ê Bô» deixa-nos os pés a trautear o outro como reflexo de nós próprios, «Santiago Amor» (com Zeca Baleiro e apenas ao som fino do piano) lança-nos à saudade pura e indizível.
E, tome-se muita atenção, os arranjos base de 12 das 13 canções são do próprio!
O que seria das nossas cidades (e da nossa alma) sem a música de Tito Paris?

jef, abril 2017

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