Lobos maus e más aranhas.
Este é o caderno 38 e para que a biblioteca esteja organizada
devemos situá-lo numa nova sessão: «Mitologias».
A linguagem de Gonçalo M.Tavares é um paradoxo. Em
simultâneo, parece identificável, circunscrita a uma sintaxe própria, definida
por títulos, tabelas e tumultos característicos e indexados. Por um lado, parece
estável mas, em análise sequencial, surge lúdica, desabrida, talvez louca. Sem
dúvida, universal e intemporal.
Neste tomo, uma palavra (revolução) sugere um ténue fio de
aracnídeo que o liga aos anteriores: «Uma Menina Está Perdida no seu Século à
Procura do Pai» (Porto Editora, 2014) ou «O Torcicologologista Excelência»
(Caminho, 2015). Mas talvez seja ilusão ou exagero ou tolice encontrar por aqui
tais ligações.
Estas Mitologias revelam até onde a cultura popular está enraizada
em mitos profundamente insolúveis, em medos indecifráveis, nos traumas mais
inultrapassáveis, nos defeitos mais repulsivos, nas fobias mais colectivas. Quem tem medo do quarto escuro? Quem mete medo com o homem do
saco, o lobo-mau, o mau-olhado, a aranha felpuda a passear nas costas da mão, o
pássaro a bicar a nuca, a moura encantada e atirada ao poço, a bruxa-má e o
cigano-ladrão, a revolução que vai tirar o sossego, a cabeça desaparecida, o
futuro por resolver, o passado sombrio, o presente fechado no quarto escuro?
Será que o povo deve ir ao psicanalista?
Não!
Gregos, Latinos, Etruscos, Egípcios, Ibéricos, sempre contaram
as suas loucuras. Histórias Amedrontadoras por Explicar. Aracne,
Minotauro, Leda, Dafne, Sísifo, Édipo… Alguns as escreveram.
Muitos as leram e acreditaram nelas.
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