quinta-feira, 22 de junho de 2017

Sobre o livro «Requests ou Permissão para Respirar» de Firmino Bernardo precedido de «A Dança das Raias Voadoras» de Ana Lázaro, Companhia das Ilhas 2017















3ª Edição do Laboratório de Dramaturgia. 2016. Teatro Meridional / Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras de Lisboa. Até quatro actores que, inesperadamente, ficam confinados a determinado espaço.

A Firmino Bernardo, na sua escrita dramatúrgica enraizada no humor e na tradição brechtiana do conflito que opõe o espaço, a palavra e o homem-social, os limites propostos pelo Laboratório serviram, principalmente, para ampliar o campo do Trabalho, quantas vezes minado, quantas vezes revoltado. Assim foi, em «As Grandes Dionísias» (Apenas Livros 2013), escrito em parceria com Suzana Branco, e «Dura Tchekhov Lex Sed Tchekhov Lex» que venceu o Prémio Novas Dramaturgias FITA / LdE 2015. Firmino Bernardo gosta de explorar o espaço confinado e coloca o leitor / espectador não tanto sob a angústia do sitiado mas, acima de tudo, à mercê da ansiedade que o aprisionado faz recair sobre o outro.
Albertina, Bartolomeu e a voz sapiente e ineficaz de Cândido estão dentro de aquários-terrários onde quem vigia também é vigiado, também impõe o respectivo nervo, a provável paranóia. A ansiedade proposta pelos vigilantes, contudo, vai sendo transformada em conluio agressivo mas solidário de vigiados, num humor crescente onde cenário e adereços têm vida própria e não necessitam de «requests» para imporem a ordem física, quase circense.
Firmino Bernardo é uma voz séria no teatro português.

«A Dança das Raias Voadoras» de Ana Lázaro parte de outra premissa: o espaço infinito do mar que sustenta a claustrofobia de um casco à deriva. Quatro adultos infantilizados ou quatro miúdos a quem as circunstâncias, esclarecidas em longas falas, ditam como lhes foi truncada a infância. Uma delas não fala, as outras entram em conflito-mimado ou amuo-guerreiro sobre as presentes ausências ou os desastres da memória. A guerra pode ser mais imaginada mas é real.

jef, junho 2017

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