segunda-feira, 5 de junho de 2017

Sobre o filme «United States of Love» de Tomasz Wasilewski, 2016


















Fala-se do muro de Berlim. Fala-se de Mikhail Gorbachev. Estamos algures num subúrbio, na Polónia. 1990. As cores são estudadas. O cinzento é azulado, o vermelho, raro vermelho, é sombrio. O branco é quase negro e o preto tem laivos acastanhados. A arquitectura da imagem é planeada em simetria de prédios e escadas, cadeiras, cozinhas, casas de banhos. Os corpos são apresentados a nu numa estrutura que não deixa traços de amor. Apenas sexo desolado e suor seco.
Quatro mulheres contam as suas histórias de modo encadeado como nas mil e uma noites. Para não dormir. Para deixar o espectador inquieto, perante o expectável inconclusivo. São quatro mulheres sem paradeiro mas com a construção das grandes actrizes: Iza (Magdalena Cielecka), Renata (Dorota Kolak), Agata (Julia Kijowska), Marzena (Marta Nieradkiewicz). É extraordinário ver surgir grandes personagens através de um argumento sólido.

Contudo o filme não comove. A fotografia é cuidada, os enquadramentos perfeitos, mas Oleg Mutu, o fotógrafo moldavo que construiu a luz e o corpo de muitos dos grandes filmes romenos da última década, não consegue quebrar o gelo do enquadramento geométrico. E o realizador Tomasz Wasilewski não consegue «sentimentalizar» o soberbo pantone-pastel que tem na mão.

Tudo parece estar certo neste filme mas falta-lhe qualquer coisa.

Ou andarei eu viciado do Mestre entre os mestres, Kenji Mizoguchi?

jef, junho 2017


«United States of Love» (Zjednoczone stany milosci) de Tomasz Wasilewski. Com Julia Kijowska, Magdalena Cielecka, Dorota Kolak, Marta Nieradkiewicz. Suécia / Polónia, 2016, Cores, 106 min.

Sem comentários:

Enviar um comentário