Tem 10 anos. É bom aluno. Possui um vasto vocabulário, um
rico léxico. Vê os ácaros ao macroscópio. Escreve uma redacção para a Menina
Michelle, a sua professora: «A minha família sou eu, o meu irmão Andrei e a
minha avó Svetlana, a quem chamamos Babushka.» Por este texto, logo ao primeiro
capítulo, ficamos a saber que o miúdo podia ser russo ou ucraniano se não
tivessem passado os ventos tóxicos por Chernobyl. Assim sendo, é canadiano,
nascido em Montreal, terra de muitas gentes de origens diversas mas de muita compreensão.
Ele deseja a todo o custo salvar a Avó. E actua.
João Reis surge como ficcionista na novela «A Noiva do Tradutor»
(Companhia das Ilhas, 2015), mostrando uma escrita firme, dirigida mas contida,
fruto de muito trabalho, de muita leitura, tradução, edição.
Volta com um romance livre e consciente. Eu gosto da
escrita livre e consciente. Só, deste modo, faz sentido a leitura.
Mas este também é um romance iniciático, simultaneamente divertido e
triste, agreste e terno. Um difícil consenso do qual o autor sai pela porta maior
com uma grande narrativa onde a comoção e a consciência social combinam com o
humor sem espalhafato.
Lembrar-me de Tom Sawyer, Huckleberry Finn, Nils Holgersson,
ou Daniel, saído de «O Índice Médio de Felicidade» de David Machado (Dom
Quixote, 2013), não é nada mau. Só um bom livro vai sacar à memória do leitor
os seus livros de eleição, juntando-se-lhes.
João Reis, um escritor cuja obra devemos prestar mesmo muita
atenção.
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