segunda-feira, 26 de junho de 2017

Sobre o livro «A Avó e a Neve Russa» de João Reis, Elsinore 2017















Tem 10 anos. É bom aluno. Possui um vasto vocabulário, um rico léxico. Vê os ácaros ao macroscópio. Escreve uma redacção para a Menina Michelle, a sua professora: «A minha família sou eu, o meu irmão Andrei e a minha avó Svetlana, a quem chamamos Babushka.» Por este texto, logo ao primeiro capítulo, ficamos a saber que o miúdo podia ser russo ou ucraniano se não tivessem passado os ventos tóxicos por Chernobyl. Assim sendo, é canadiano, nascido em Montreal, terra de muitas gentes de origens diversas mas de muita compreensão.
Ele deseja a todo o custo salvar a Avó. E actua.

João Reis surge como ficcionista na novela «A Noiva do Tradutor» (Companhia das Ilhas, 2015), mostrando uma escrita firme, dirigida mas contida, fruto de muito trabalho, de muita leitura, tradução, edição.
Volta com um romance livre e consciente. Eu gosto da escrita livre e consciente. Só, deste modo, faz sentido a leitura.
Mas este também é um romance iniciático, simultaneamente divertido e triste, agreste e terno. Um difícil consenso do qual o autor sai pela porta maior com uma grande narrativa onde a comoção e a consciência social combinam com o humor sem espalhafato.

Lembrar-me de Tom Sawyer, Huckleberry Finn, Nils Holgersson, ou Daniel, saído de «O Índice Médio de Felicidade» de David Machado (Dom Quixote, 2013), não é nada mau. Só um bom livro vai sacar à memória do leitor os seus livros de eleição, juntando-se-lhes.

João Reis, um escritor cuja obra devemos prestar mesmo muita atenção.

jef, junho 2017

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