A
beleza, o amor e a política.
A
mestria de Kenji Mizoguchi é tal que é difícil não afirmar que
qualquer um dos seus filmes não é a súmula, o corolário, a afirmação dos
restantes. Tanto os que o antecedem como todos os que o seguiram.
«O
Conto dos Crisântemos Tardios», 1939, parece um filme conclusão, um filme que
tanto busca na tragédia clássica da Grécia e de Shakespeare, como na ópera
romântica de tradição italiana ou alemã. Um filme-conclusão que tem o centro, ali, irremediavelmente ligado à ancestral ópera japonesa.
Mas o centro do filme roda e vai glorificar o esforço pela perfeição no teatro, a
infalível busca pela verdade que está sempre contida na ribalta seguinte. O amor pelo
Trabalho é uma das estratégias de Mizoguchi.
Também
a devoção inquestionável no Amor que transforma o final deste filme num incomparável
poema à paixão entre dois seres. A amada que parte e pede ao amado
para não faltar ao aplauso final do espectáculo levando-a, deste modo, consigo.
A vénia sublime que este fará sobre o rio. Uma vénia submissa e triunfal feita ao
espectador, ao espectáculo, e à dádiva caridosa que lhe votou a sua protectora,
orientadora, mulher, amante e diva. Até à morte.
No
fundo, contra a austeridade de uma família, da casta teatral «dos crisântemos»,
vence afinal a insubmissão no seio da tradição e do rigor teatrais. Esta é
outras das «vontades políticas» que sempre orientou o trabalho do realizador.
Finalmente,
a inflexibilidade, a intransigência, a luta árdua de um artista que coloca a
parafernália feroz da máquina cinematográfica ao serviço da beleza mais pura, das
histórias mais comoventes, da consciência e da acção pela humanidade.
São estes filmes infalíveis!
São estes filmes infalíveis!
jef,
junho 2017
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