Consta
que a palavra Bayashi não descreve propriamente festa ou músicos, mas um certo
rufar de tambores que anuncia a festa anual no bairro de Gion, em Quioto.
A
tradição no centro de um filme que se desenvolve na teia modernista dos
negócios de um Japão pós-guerra.
O
que mais surpreende, ensina e comove, neste filme sobre a vida das gueixas é o espelho
dessa realidade económica e social quando recai sobre a vida daquelas duas
mulheres. A curiosa, inexperiente e tão jovem Eiko, que se transforma na bela e
estilizada bonequinha Miyoe, alindando as festas «comerciais» de homens ávidos
de estatuto social. E Miyoko, com tarimba, a não menos bela gueixa de estilo e
estatuto, a quem é confiada (e em quem confia) Miyoe.
Sobre
a guerra da economia e do poder monetário, cresce a afirmação do poder feminino
e da escolha exigível face aos parceiros que as contratam. Ser gueixa é também
um código que deve ser imposto.
Ser
gueixa é uma profissão exigente e bela que não pode condescender.
Ao
dinheiro que tudo paga e deve satisfazer, existe uma norma de conduta e de
protecção a seguir. Uma lei que a amizade impede de transigir.
Miyoko
pode ser banida do circuito comercial das casas de gueixas mas não abandona
Miyoe, ama-a até. Miyoe sabe que, por ela, Miyoko não tem trabalho, e implora
que a deixe partir. Ela recusa, permanece inflexível, abraçam-se, aperaltam-se e
partem de novo para a noite onde os tambores ainda se ouvem.
Este
é o tema chave destes filmes maravilhosos. Uma das demandas principais de Kenji
Mizoguchi.
Um
prazer para os olhos, um fulcro para alma.
jef,
junho 2017
Sem comentários:
Enviar um comentário