O
azar da honestidade.
Dos
realizadores búlgaros Petar Valchanov e Kristina Grozeva já conhecíamos «A
Lição» (2014) e a gestão da ansiedade psicológica e social feita pelas grandes
narrativas cinematográficas. Cenas curtas, montagem célere, câmara a seguir os
passos dos protagonistas. Também as mãos, os pulsos, os relógios. O Tempo, ou a
sua falta, no cinema destes realizadores tem uma pulsão curiosa e
angustiante.
Desse
filme anterior conhecíamos já os extraordinários actores Stefan
Denolyubov, Margita Gosheva. Aqui ela é Julia Staikova, a acelerada e calculista chefe
do departamento de relações públicas do Ministério dos Transportes; ele é Tsanko
Petrov, um humilde trabalhador ferroviário, e encontra uma enorme quantia de
dinheiro na linha que vigia diariamente. Tsanko Petrov entrega o
dinheiro às autoridades e recebe um prémio por isso. Julia Staikova tem a
oportunidade de melhorar a imagem do ministro e organiza a cerimónia…
…mas,
pelo meio, um relógio é perdido e o Tempo desorganiza-se.
Os
caminhos divergentes das duas personagens convergem, ou melhor, colidem. As
circunstâncias e as condições tornam-se desfavoráveis para Tsanko e Julia. Contudo, em sentido diverso. A sociedade não ajuda, não deita água na fervura.
Bem pelo contrário.
«Glória»
pode ser visto como uma tragédia, um melodrama. Mas ao colocar uma carga tão forte de caricatura sobre todas as personagens, poderá ser olhado, igualmente, como uma
alta comédia, negra e triste, de uma sociedade que é feita mais pela imagem do
que pela honestidade.
E, pelo meio, não podemos esquecer o azar!
jef, junho 2017
Sem comentários:
Enviar um comentário