O
melhor do filme é mesmo o que lhe virá da peça de teatro «Blackbird» de David
Harrower. O tempo distendido e cenografia ampla, debruada a vermelho, construída
no interior de um angar-armazém de distribuição de correspondência postal.
Dentro
deste, numa cápsula envidraçada a servir de cantina, Una (Rooney Mara) confronta
Ray (Ben Mendelsohn) pelo trauma que a transtorna há 15 anos. Tinha ela 13 e era
seduzida por Ray, (agora Peter após quatro anos a cumprir pena por abuso de
menores), um vizinho adulto próximo e consciente do que significava ser seduzido e seduzir.
O
filme, construído por flasbacks fortes e luminosos, faz sobressair os dotes
dramáticos da jovem actriz Ruby Stokes (Una adolescente) num espaço igualmente distendido
pelos arcos musicais de Jed Kurzel, mas que não retira a estranheza da escolha
de Rooney Mara para actriz principal. Uma cara juvenil e torturada, embora estática, que bem
podia ser a jovem Una década e meia depois, mas onde falta a plasticidade dramática
que a história promete e a realidade exigiria. Devia a actriz ter carisma e
pulso para persuadir o espectador da tensão que se cumula à sua volta e
que explode na festa que Peter havia organizado com a sua mulher Yvonne (Natasha
Little).
No
interior do climax, Natasha Little é extraordinária nas poucas cenas que lhe
concedem – a incompreensão do seu passado oculto e a compreensão de um futuro
que em breve terminará, ao observar Una e Peter-Ray a despedirem-se para
sempre.
Nas cenas finais, uma espécie de iluminação da arte dramática.
jef,
agosto 2017
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