A questão do papagaio embalsamado.
O espécime que faz companhia a Gustave Flaubert enquanto
escreve «Un Coeur Simple» e que vai acompanhar Félicité. Chamado ‘Lulu’. Também
este, na história, acaba embalsamado a sobrevoar o sonho final da pobre alma. Afinal, quantos
animais empalhados existirão entre Ruão e Croisset? Geoffrey Braithwaite é um
académico estudioso, fã, quase groupie,
do autor francês que contestava a popularidade do autor em detrimento da
leitura da respectiva obra. Julian Barnes segue Geoffrey Braithwaite que segue
Gustave Flaubert até à coloração desmaiada das penas dos diversos ‘Lulu’.
O que espanta neste livro é, exactamente, esta tropelia irónica de
Julian Barnes em levar-nos pelo caminho intenso, tortuoso, contraditório,
implicativo, aparentemente misógino, quase misantropo, mas inteligentíssimo, do
autor de «Madame Bovary», fazendo-nos acompanhar o percurso de Braithwaite que,
de modo muito sagaz, lembra a história de Ema e Carlos Bovary.
Pelo meio, temos a sátira a académicos e críticos literários,
a análise cirúrgica de um autor e de uma época literária absolutamente
fascinantes.
Um romance arguto e minucioso para quem gosta de literatura.
Julian Barnes é um escritor fundamental.
Gustave Flaubert, claro, também.
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