São doze temas de um certo pop-lento, quase slow-dance, que
parecem vir de um tempo em que não havia problema em misturar o lado sinfónico da
orquestra e o princípio rock da guitarra eléctrica.
Quase todas as canções são mínimas e não excedem os 3 minutos
e meio, como se estivessem prontas para ser incluídas, duas a duas, no lado A
ou no lado B de um single. Momento, pausa e batida, coros longínquos, eco
imperceptível e uma ternura esbatida, uma triste nostalgia por algo que já não
volta ou que se deseja esquecer. Quase última valsa. Perfeito para concluir a
noite quando o barman ou o disco-jockey começa a olhar para as horas.
Quase todas mínimas, quase, pois «Vai e Vem» deve dar espaço ao
conjunto orquestral das cordas, permitindo depois a entrada discreta mas ainda
mais cénica e acústica da guitarra; e «Ao Chegar» que cumpre o caminho
certo e longo da guitarra que, não fosse eléctrica, quase viria cumprir algum desígnio
de certo trip-hop esquecido.
Tudo parece antigo, íntegro e sincero, e acima de tudo calorosamente
pop, sem medo das palavras inteligentes em rimas que facilitam o movimento, esse
modo de dançar uma angústia, ou saltar por cima de uma ausência. Porém, tudo isto, hoje em dia, sem baias ou dogmas, é muito moderno!
Bem diz Manuel Halpern, no
Jornal de Letras de 24 de Outubro, e com ele repito: os duetos com António
Zambujo, Samuel Uria e Salvador Sobral são bons, mas se não existissem, as canções de Márcia permaneceriam com força igual, o mesmo cariz.
Um bom disco que se ouve sem cessar.
jef, outubro 2018
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