Se Margarethe von Trotta tivesse cumprido o desígnio do seu
reverente, talvez um pouco melodramático e parcial, documentário sobre o Mestre Bergman,
conforme ameaçou na sequência inicial comentando plano por plano, quase como
leitora de guião, as cenas enigmáticas e brilhantes de «O Sétimo Selo», o filme
estava ganho.
Se tivesse seguido o maravilhoso guião publicado de «Fanny e
Alexandre» (1982); tocado mais fundo o livro «A Lanterna Mágica» (1987); olhado
com mais concentração o humor mordaz de tantos dos seus filmes; suspendido o
olhar sobre as esplêndidas fichas publicadas pela Cinemateca Portuguesa de tais filmes, Margarethe von Trotta teria ganho o filme!
Se tivesse evitado um pouco mais as polémicas familiares e
fiscais, que pouco interessam para o contínuo êxtase com que revemos a obra de
Ingmar Bergman; atentado mais no futuro de uma cinematografia ímpar e não se
tivesse perdido na sua própria nostalgia; usado o estatuto da geração de ouro do
cinema alemão pós-guerra, de que a própria realizadora faz parte, todos nós teríamos
ganho.
Mas Ingmar Bergman resiste a tudo. É extraordinário!
Aconselho vivamente Margarethe von Trotta a analisar com extrema
atenção o filme «Onde Jaz o teu Sorriso?» de Pedro Costa (2001) sobre a obra de
Jean-Marie Straub e Danièle Huillet e o filme «Sicília» (1999).
jef, outubro 2018
«Ingmar Bergman - A Vida e Obra o Génio» (Searching for
Ingmar Bergman /Ingmar Bergman - Vermächtnis eines Jahrhundertgenies) de Margarethe
von Trotta & Felix Moeller. Documentário. Alemanha, França, 2018, Cor, 99
min.
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