No início, a mãe de Wilhelm (Marianne Hoppe) coloca-lhe na
mala de viagem dois livros: «A Vida de um Imprestável» de Joseph Freiherr Von
Eichendorff e «A Educação Sentimental» de Gustave Flaubert. Wilhelm (Rüdiger
Vogler) deseja ser escritor e parte em viagem pela Alemanha. Encontra Laertes
(Hans Christian Blech), um rei de Ítaca colaboracionista nazi e cantor, Mignon
(Nastassja Kinski) uma artista de circo que nunca fala, Therese (Hanna
Schygulla), uma actriz famosa, Bernhard (Peter Kern), um poeta austríaco que procura a
essência da crítica, um industrial suicida (Ivan Desny). Todos têm um percurso
a executar, uma memória a liquidar. Contudo nenhum consegue contar a
história por inteiro. Discutem a dimensão da palavra, da poesia ou da política
enquanto as crianças brincam e correm em torno de uma Alemanha que procura um
leito tal como o rio que corre absorto ao longo da estrada. É aí que o grupo se
separa e Wilhelm, sozinho, sobe ao topo da montanha e regressa a imagem daquele
que caminha sobre o mar de névoa de Caspar David Friedrich.
O argumento é de Peter Handke sobre a novela «Wilhelm Meister
LehrJahre» de Goethe. A montagem do filme (Peter Przygodda e Barbara von
Weitershausen) é arrepiante de intensidade, movimento sincronizado, capacidade
narrativa. A música (Jürgen Knieper) aprofunda tragicamente a frustração. Porém, a vida continua sobre (ou sob) as ruínas do presente.
Um filme fundamental sobre a nossa Europa, o nosso Mundo de
hoje.
jef, dezembro 2019
«Movimento em Falso» (Falsche Bewegung) de Wim Wenders. Com
Rüdiger Vogler, Hanna Schygulla, Nastassja Kinski, Peter Kern, Ivan Desny,
Marianne Hoppe, Lisa Kreuzer, Adolf Hansen. Argumento: Peter Handke baseado no
texto «Wilhelm Meister LehrJahre» de Goethe. Fotografia: Robby Müller e Martin
Schäfer. Montagem: Peter Przygodda e Barbara von Weitershausen. Música: Jürgen
Knieper. Alemanha, 1975, Cores, 93 min.
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