Este filme é uma ficção baseada em factos reais. Avisam-nos
no início. Na região de Lyon, o padre Bernard Preynat (Bernard Verley) abusou recorrentemente
de dezenas (ou centenas) de jovens escuteiros que tinha à sua guarda. Os factos
ocorreram nas décadas de 1980-1990 mas só vieram a público em 2014-2015. A
denúncia dos crimes, o confronto com a cumplicidade assumida da hierarquia
católica e a posterior acção judicial, é iniciada por Alexandre (Melvil Poupaud),
a que depois se juntam François (Denis Ménochet), Gilles (Éric Caravaca), Emmanuel
(Swann Arlaud) e muitos outros.
O filme tem uma rapidez entusiasmada de mestre, podendo
dizer-se que é quase um filme epistolar pois, enquanto decorre toda a sequência
de peripécias narrativas, vamos escutando em voz off o teor de múltiplos e-mails
trocados e de cartas guardadas mais ou menos em segredo. Poupa François Ozon tempo
e filme, ganha o espectador em expectativa cinéfila. Tudo decorre nas mãos e na
expressão de um monte de belíssimos actores.
Um filme político de denúncia de crimes exumados da cripta perversa,
mórbida e criminosa, de uma igreja católica que não sabe olhar e gerir a
sexualidade das suas confrarias com a necessária naturalidade. Justiça seja feita ao Papa Francisco que, com tanta resistência , tem vindo a dar cada vez mais atenção judiciária ao assunto!
Um filme inteligente, escorreito e firme mas que não tem
tempo de expressar a vocação emocional que outros tantos filmes de François
Ozon já demonstraram.
jef, outubro 2019
«Graças a Deus» (Grâce à Dieu) de François Ozon. Com Melvil
Poupaud, Bernard Verley, Denis Ménochet, Swann Arlaud, François Marthouret, Éric
Caravaca, Bernard Verley, Martine Erhel. Argumento: François Ozon. Fotografia:
Manuel Dacosse. França / Bélgica, 2018, Cores, 137 min.
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