quarta-feira, 29 de julho de 2020

Sobre o livro «Novela de Xadrez» (Shachnovelle) de Stefan Sweig. Livros do Brasil, Colecção Miniatura - nova série 4, 2017. Tradução, prefácio, cronologia e notas de Álvaro Gonçalves.












É de louvar a cuidada edição «miniatura» da última novela escrita pelo autor de «O Mundo de Ontem». 1941, um ano antes do suicídio de Stefan Zweig, em consciência, motivado pela angústia e depressão à conta de um mundo em confrontação bélica com o absoluto absurdo ideológico, é escrito um relato emocionante que combina a comum estratégia psicanalítica das suas personagens em situação limite com as circunstâncias geográficas e políticas na época.

Numa viagem de paquete em direcção ao novo mundo latino, duas personagens são colocadas frente-a-frente à beira de um tabuleiro de xadrez. O sobre-narrador, exterior à acção e suficiente distante do jogo para poder descrever a situação livremente, numa espécie de padre ou juiz, apodera-se das personagens, dissecando-as, até que se vê ouvinte de história secreta confidenciada por outrem que logo se apodera da narrativa. Assim era também em «Amok» (1922) ou «Vinte e Quatro Horas da Vida de uma Mulher» (1925).

Porém, em nenhum daquelas novelas, Stefan Zweig está tão próximo do fim e do holocausto de uma vida singular ou de uma sociedade europeia burguesa e culta. O confronto das personalidades dos dois jogadores principais, interceptadas pela de M. McConnor, o exasperante e burgesso catalisador da acção, representam exactamente a dualidade esquizofrénica em que o mundo assentava na época. Uma compreensão política e histórica que não seria, para o leitor, tão séria e cabal caso não existissem as notas pé-de-página de Álvaro Gonçalves.

Um livro (e uma colecção miniatura em nova série) a ser lido com muita atenção.

jef, julho 2020

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