É de louvar a cuidada edição «miniatura» da última novela escrita
pelo autor de «O Mundo de Ontem». 1941, um ano antes do suicídio de Stefan Zweig,
em consciência, motivado pela angústia e depressão à conta de um mundo em confrontação
bélica com o absoluto absurdo ideológico, é escrito um relato emocionante que
combina a comum estratégia psicanalítica das suas personagens em situação
limite com as circunstâncias geográficas e políticas na época.
Numa viagem de paquete em direcção ao novo mundo latino, duas
personagens são colocadas frente-a-frente à beira de um tabuleiro de xadrez. O sobre-narrador,
exterior à acção e suficiente distante do jogo para poder descrever a situação
livremente, numa espécie de padre ou juiz, apodera-se das personagens,
dissecando-as, até que se vê ouvinte de história secreta confidenciada por
outrem que logo se apodera da narrativa. Assim era também em «Amok» (1922) ou
«Vinte e Quatro Horas da Vida de uma Mulher» (1925).
Porém, em nenhum daquelas novelas, Stefan Zweig está tão próximo
do fim e do holocausto de uma vida singular ou de uma sociedade europeia
burguesa e culta. O confronto das personalidades dos dois jogadores principais,
interceptadas pela de M. McConnor, o exasperante e burgesso catalisador da
acção, representam exactamente a dualidade esquizofrénica em que o mundo assentava
na época. Uma compreensão política e histórica que não seria, para o leitor,
tão séria e cabal caso não existissem as notas pé-de-página de Álvaro Gonçalves.
Um livro (e uma colecção miniatura em nova série) a ser lido com
muita atenção.
jef, julho 2020
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