quinta-feira, 9 de julho de 2020

Sobre o filme «À Prova de Morte» de Quentin Tarantino, 2007



Este é um filme que representa bem a devoção que Quentin Tarantino tem pelas mulheres, pela justiça e pela humanidade. É um dos filmes mais simples e dramático, mais tenso e divertido de quantos realizou. Perto da estrutura narrativa da banda desenhada, do filme de cowgirls, dos filmes “pulp-fiction”. Apenas dois grupos de quatro mulheres e um sátiro perseguidor, um duplo cinematográfico com carro artilhado à maneira, um assassino perverso e sádico.

Se na primeira parte do filme, as mulheres estão envoltas pelas enevoadas e chuvosas trevas, preparadas (juntamente com o “incauto” espectador) para o sacrifício do cordeiro inocente; na segunda parte, a acção é feita sob a violência da luz solar e das perseguições desabridas em carros no meio da poeira. As quatro mulheres estão aptas a concederem a vingança que o cordeiro merece e pela qual o pecador suplica.

Numa espécie de palco duplo automobilístico, os planos são fechados, o campo- contracampo é sustentado por um diálogo tão livre e simples quanto fulcral para adensar a atmosfera claustrofóbica de martírio e de redenção.

As actrizes, Kurt Russell e Quentin Tarantino, todos se movem dentro da amabilidade criativa, justa, afectiva, social, política, mas acima de tudo divertida, de um autor que está sempre a dizer que não realizará mais filmes… Que andará Tarantino a congeminar, agora, ao olhar para a atroz recandidatura desse vergonhoso enlouquecido da melena amarela?

 

jef, julho 2020

 

«À Prova de Morte» de Quentin Tarantino. Com Kurt Russell, Zoë Bell, Rosario Dawson, Vanessa Ferlito, Sydney Tamiia Poitier, Jungle Julia, Tracie Thoms, Rose McGowan, Jordan Ladd, Mary Elizabeth Winstead, Quentin Tarantino, Marcy Harriell, Eli Roth. EUA, 2007, Cores, 113 min.


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