Este é um filme que representa bem a devoção que Quentin
Tarantino tem pelas mulheres, pela justiça e pela humanidade. É um dos filmes
mais simples e dramático, mais tenso e divertido de quantos realizou. Perto da
estrutura narrativa da banda desenhada, do filme de cowgirls, dos filmes “pulp-fiction”.
Apenas dois grupos de quatro mulheres e um sátiro perseguidor, um duplo
cinematográfico com carro artilhado à maneira, um assassino perverso e sádico.
Se na primeira parte do filme, as mulheres estão envoltas
pelas enevoadas e chuvosas trevas, preparadas (juntamente com o “incauto”
espectador) para o sacrifício do cordeiro inocente; na segunda parte, a acção é
feita sob a violência da luz solar e das perseguições desabridas em carros no
meio da poeira. As quatro mulheres estão aptas a concederem a vingança que o
cordeiro merece e pela qual o pecador suplica.
Numa espécie de palco duplo automobilístico, os planos são
fechados, o campo- contracampo é sustentado por um diálogo tão livre e simples quanto
fulcral para adensar a atmosfera claustrofóbica de martírio e de redenção.
As actrizes, Kurt Russell e Quentin Tarantino, todos se movem
dentro da amabilidade criativa, justa, afectiva, social, política, mas acima de
tudo divertida, de um autor que está sempre a dizer que não realizará mais
filmes… Que andará Tarantino a congeminar, agora, ao olhar para a atroz
recandidatura desse vergonhoso enlouquecido da melena amarela?
jef, julho 2020
«À Prova de Morte» de Quentin Tarantino. Com Kurt Russell,
Zoë Bell, Rosario Dawson, Vanessa Ferlito, Sydney Tamiia Poitier, Jungle Julia,
Tracie Thoms, Rose McGowan, Jordan Ladd, Mary Elizabeth Winstead, Quentin
Tarantino, Marcy Harriell, Eli Roth. EUA, 2007, Cores, 113 min.
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