domingo, 5 de julho de 2020

Sobre o filme «Doze Indomáveis Patifes» de Robert Aldrich, 1967





 


Se existe algum filme próximo do mundo da banda desenhada ele é «Doze Indomáveis Patifes». Não é propriamente as aventuras aéreas do Major Alvega, nas colecções miniaturas da Falcão, mas estão lá todas as fracturas sincopadas de narrativa daquela dúzia de condenados à morte por delitos fatais, que serão treinados por Lee Marvin, o rebelde Major Reisman, a quem sai a fava de levar o batalhão desvairado a atravessar o Atlântico, fazendo-o chegar a certo palácio francês ocupado pelos nazis para lhes dar uma valentíssima coça colectiva. Estamos na altura do “cinema catástrofe” onde é bom que um elenco de actores excepcionais sofram as estopinhas e enfrentem muitas aventuras desventuradas.

Esta é uma comédia dramática de acção com laivos de musical. Mas sem canções ou dançarinos. Não interessa como é conseguido este feito de tragédia e pantomima, como se podem exercitar doze patifes indomáveis à beira da forca, saídos de supetão da cadeia de alta segurança, e elevar-lhes deste modo o espírito de grupo e sacrifício, a coesão militar, a moral patriótica. Também pouco importa a desconexão cronológica como tudo é contado, assim muito rapidamente: a construção do campo militar, a estratégia da “brincadeira” de sequestrar os próprios comandantes americanos, a viagem sobre o oceano ou a inusitada capacidade “paraquedista” dos ex-meliantes.

Um facto é que Lee Marvin, Charles Bronson, John Cassavetes, George Kennedy, Ernest Borgnine, Donald Sutherland, e os restantes amigos, conseguem levar a missão até ao fim, mesmo se falham os passos ensaiados, mesmo se morrem quase todos.

Conseguem, ainda, dar uma enorme densidade àquelas personagens, meio-psicóticas meio-circenses, fazendo-nos esquecer tudo o resto. Comédia é comédia, apesar de trágica e a brincar com o caso mais sério da nossa história recente.

O filme tornou-se um caso de popularidade e, repentinamente, surgiu no canal 2 da RTP. Claro que não resisti a vê-lo de novo e cheio de entusiasmo, reparando em todas as suas “falhas” e “abusos” cinematográficos. Claro que recordei como este era um dos filmes que os meus pais tanto gostavam de ver.


jef, julho 2020

«Doze Indomáveis Patifes» (The Dirty Dozen) de Robert Aldrich. Com Lee Marvin, Ernest Borgnine, Charles Bronson, Jim Brown, John Cassavetes, Richard Jaeckel, George Kennedy, Trini López, Ralph Meeker, Robert Ryan, Telly Savalas, Donald Sutherland, Clint Walker, Robert Webber, Tom Busby Argumento: Nunnally Johnson e Lukas Heller baseado no romance de E.M. Nathanson. EUA, 1967, Cores, 150 min.

 

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