Este filme centra-se na hiper-realidade teatral de Freddie, uma jovem francesa
de origem coreana que sem saber muito bem como viaja até Seul para “involuntariamente”
conhecer a sua história antes da adopção e contactar com os pais biológicos. Sabemo-lo nas cenas iniciais.
Esse dramatismo cénico é centrado totalmente na grande actriz que é Park Ji-min que expõe a cada minuto a tentativa de procurar uma origem e um destino relativamente àquela viagem e, no fundo, ao interior do seu inconstante e provocador modo de olhar o mundo que a sustém. Freddie procura mas não tem a certeza de que deseja mesmo encontrar o que busca. Ela move-se num certo modo de transgredir, tenta encontrar alicerces mas as raízes com que se depara são, para ela, nova forma de limitação. Rejeita o velho e amargurado pai que não se conforma com a adopção da filha obrigado pelas condições miseráveis do país após a guerra que originou a separação das Coreias.
Freddie permanece na Coreia aguardando o contacto da mãe biológica. Afasta-se dos pais adoptivos. Vive apenas por ela própria, tateando a cultura coreana e vai progredindo com tenacidade. Move-se num mundo social que não é bem o dela mas também, agora, já não deixa de o ser.
A
rejeição sinónimo de dor e desenraizamento. O choque de culturas
como modo personificado de aculturação e fuga de identidade.
Sem
dúvida um filme consciente, inteligente e belo.
jef,
fevereiro 2023
«Regresso
a Seul» (Retour à Séoul) de Davy Chou. Com Park Ji-min, Oh Kwang-rok, Guka Han,
Kim Sun-young, Yoann Zimmer, Louis-Do de Lencquesaing, Jin Heo, Hur Ouk-Sook, Son
Seung-Beom, Dong Seok Kim, Emeline Briffaud, Lim Cheol-Hyun, Régine Vial, Cho-woo
Choi, Ioana Luculescu. Argumento: Davy Chou, Laure Badufle. Produção: Graham
Broadbent, Peter Czernin, Martin McDonagh. Fotografia: Thomas Favel. Música: Jérémie
Arcache, Christophe Musset. Guarda-roupa: Claire Dubien, Choong-Yun Yi. França,
Alemanha, Bélgica, 2022, Cores, 119 min.
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