Rui
Cardoso Martins é um escritor que domina a corrente da escrita ou, melhor, tem a
capacidade plástica de adaptar o modo de escrita a uma ideia que lhe terá
surgido das células mais fantasiosas e dramáticas da realidade. Estes 11
contos, publicados entre 2006 e 2018 em variadas publicações de diversos
formatos, demostram o traço de romantismo emocional do autor aliado à irreprimível
vontade de anunciar e combater a injustiça de um mundo que tem mais vértices e
espinhos do que o esférico contorno do planeta Terra.
No
prefácio, o autor cita o grande contista e desajustado social Julio
Cortázar que afirmara numa universidade dos Estados Unidos que o conto contém
na sua génese a perfeição da esfera. O conto, acrescento eu, é o meio difícil
de enlevar o leitor numa grande história sabendo-se, à partida, que o epílogo
já deverá estar contido nas linhas iniciais. Assim, de repente, para essa
espécie de volúpia lembro-me de Guy de Maupassant, Anton Tchekov ou Mário de
Carvalho.
Nestes textos, consegue aliar a tragédia à comicidade sem beliscar o modo
atento de acarinhar as personagens com uma descrição cirúrgica, com um fatal laivo
narrativo. Tudo num relance, tudo num apontamento sintomático, fazendo com que
as figuras logo se tornem posse do leitor. Em Rui Cardoso Martins, esse rigor
sintético virá das viagens difíceis sob o olhar do jornalista, das magníficas crónicas de tribunal, dos guiões para cinema que
exigirão mais corte que costura, do diálogo pragmático dos textos para teatro.
Talvez de tudo e do engenho de fixar a realidade na sequência de episódios, das
causas e desfechos, com que de facto ela se estrutura. No final, em «Ladrões de
Cobre», a arte de contar as histórias unidas de Orlando, do bar, de Mário, o
justiceiro solitário, e do Sr. Fernando e do João, na brevidade da sua passagem
pela força da narração curta.
Rui
Cardoso Martins é um verdadeiro contador de histórias.
jef,
agosto 2023
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