segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Sobre o filme «Anselm - O Som do Tempo» de Wim Wenders, 2023



 















Não sei se terá sido pelo encantamento dos filmes que tenho visto ultimamente, todos perfeitos no seu plano estético, moral, afectivo, aproximando-me da visão miniaturista e ultra-emocional sobre a exigível existência futura – «Ervas Secas» de Nuri Bilge Ceylan (2023); «Dia Perfeiros» de Wim Wenders (2023); «História de Um Proprietário Rural» e «Crepúsculo em Tóqui» de Yasujiro Ozu (1947, 1957).

Talvez por causa de uma overdose de imagens bélicas, ansiosas, agressivas e sangrentas com que todos nós nos confrontamos minuto a minuto no quotidiano.

Ou pelo meu ancestral estrabismo que não me permite ver convenientemente a realidade dos filmes 3D sobre dois óculos sobrepostos, deixando a minha cabeça hirta para que a enxaqueca não sobreviva.

(E não deixando de pensar que só os antigos egípcios e os ícones pré renascentistas viam a realidade apenas a duas dimensões, sendo que a arte visual contemporânea, cinematográfica ou não, tem sempre em atenção os famosos pontos de fuga e as linhas de convergência.)

E apesar do filme ser muito belo nesse absoluto oceano sem fundo da arte de Anselm Kiefer que, eu pobre ignorante, desconhecia.

O filme sobre tal extravagante artista plástico e a sua exorbitante, monumental, gigantesca obra de arte não me entusiasmou por aí além. O filme, não a obra retratada, pareceu-me em certos momentos um pouco piegas.

Contudo, reconheço que esta geração de artistas alemães (Anselm Kiefer, Joseph Beuys, Wim Wenders ou Rainer Werner Fassbinder) são absolutamente fundamentais para ser possível construir algo de belo por cima da absoluta ignomínia do holocausto e das suas sequelas.

 

jef, janeiro 2024

«Anselm - O Som do Tempo» (Anselm - Das Rauschen der Zeit) de Wim Wenders. Com Anselm Kiefer, Daniel Kiefer, Anton Wenders, Ingeborg Bachmann, Joseph Beuys, Paul Celan, Martin Heidegger. ProduçãoKarsten Brünig. Fotografia: Franz Lustig. Música: Leonard Küßner. Alemanha, 2023, Cores, 92 min.

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