No
início, parece ser um conjunto de crónicas sobre a mentira. No fundo, são uma
série de textos onde a mentira é a personagem principal. Contudo, a realidade neles
surge essencialmente como móbil para a ficção. Aí, transformam-se em contos pequenos
e histórias minúsculas que poderiam ser colocadas ao lado das divagações do absurdo
de Woody Allen ou, seguindo a premissa de contenção narrativa, de Robert Walser,
ou até do sarcasmo irónico de Guy de Maupassant, Nikolai Gógol ou Ray Bradbury.
Afastam-se das crónicas de Ricardo Araújo Pereira ou de Rui Cardoso Martins
pois a realidade encontra-se transformada pela fantasia do insólito e pela força
do diálogo assertivo, vindo de algum teatro radiofónico ou de certa peça
televisiva. Textos para levar à cena.
Na
verdade, Luis Fernando Verissimo transporta para as suas divagações sociais o
divertimento sub-reptício de que a vida-comum se mune para conseguir sobreviver.
O homem mente por necessidade, por instinto ou para salvar o mundo. Sem a
mentira, o mundo (que parece estar agora prestes a colapsar) já teria colapsado há algum tempo.
E as mulheres já teriam desistido dos homens, os amigos destes ter-lhes-iam fechado a
porta na cara, as famílias desaparecido.
Uma
leitura ágil e divertida que pelo humor e inteligência nos faz ainda ter
esperança no Homem e no homem, apesar da sua congénita tendência para a mentira.
jef, janeiro 2024
Sem comentários:
Enviar um comentário