quinta-feira, 20 de junho de 2024

Sobre o livro «As Mentiras que os Homens Contam» de Luis Fernando Verissimo, Dom Quixote 2016.



 







No início, parece ser um conjunto de crónicas sobre a mentira. No fundo, são uma série de textos onde a mentira é a personagem principal. Contudo, a realidade neles surge essencialmente como móbil para a ficção. Aí, transformam-se em contos pequenos e histórias minúsculas que poderiam ser colocadas ao lado das divagações do absurdo de Woody Allen ou, seguindo a premissa de contenção narrativa, de Robert Walser, ou até do sarcasmo irónico de Guy de Maupassant, Nikolai Gógol ou Ray Bradbury. Afastam-se das crónicas de Ricardo Araújo Pereira ou de Rui Cardoso Martins pois a realidade encontra-se transformada pela fantasia do insólito e pela força do diálogo assertivo, vindo de algum teatro radiofónico ou de certa peça televisiva. Textos para levar à cena.

Na verdade, Luis Fernando Verissimo transporta para as suas divagações sociais o divertimento sub-reptício de que a vida-comum se mune para conseguir sobreviver. O homem mente por necessidade, por instinto ou para salvar o mundo. Sem a mentira, o mundo (que parece estar agora prestes a colapsar) já teria colapsado há algum tempo. E as mulheres já teriam desistido dos homens, os amigos destes ter-lhes-iam fechado a porta na cara, as famílias desaparecido.

Uma leitura ágil e divertida que pelo humor e inteligência nos faz ainda ter esperança no Homem e no homem, apesar da sua congénita tendência para a mentira.

jef, janeiro 2024

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