segunda-feira, 29 de julho de 2024

Sobre o livro «A Janela Alta» de Raymond Chandler, Colecção Vampiro n.º 40 (nova série) 2021 (1942), Livros do Brasil. Tradução de Maria Dulce Teles de Menezes e Salvato Teles de Menezes.



 







Na escrita de Raymond Chandler, o que soa como complemento é a própria intriga policial. Essa linha rápida que nos leva sem descanso atrás da correria de Philip Marlowe. Claro que sabemos, mesmo antes de começar a leitura, que ele sobreviverá, que descobrirá o mistério e continuará a fazer tilintar o gelo no copo pela noite, sozinho, fumando no pequeno apartamento em Los Angeles.

O fundamento do livro é o requinte da escrita de Raymond Chandler, que se sobrepõe à razão de colocar o herói em Pasadena, tocando à porta de uma grande mansão antiquada, rodeada de acácias de flores brancas e com uma escultura de um pretinho vestido com calças de montar, oferecendo uma argola a quem desejasse prender as rédeas do cavalo imaginário. Na sua pose solitária, Marlowe sente-se irmanado da figurinha, conversando com ela sempre que por lá passa.

Essa descrição é mais sintomática do que saber por que a velha austera, diabolicamente controladora e infatigável bebedora de vinho do Porto, Mrs. Elizabeth Murdock, terá chamado um detective privado, discreto e que não deixasse cair cinza do charuto no chão.

Nem interessa lá muito saber, apesar de ser o centro da história, por que é que o desaparecimento de uma antiga e valiosa moeda de ouro leva a tais acontecimentos, cheios de peripécias e coincidências.

O que importa são as personagens girando nos cenários e tudo o que o autor coloca por trás delas. (Desconheço se o escritor terá tido alguma relação directa com a arte dramática.)

«Uma loura de braços e pernas compridas e de tipo langoroso estava deitada completamente à vontade numa das cadeiras com os pés levantados, apoiados num descanso almofadado e um copo alto e embaciado junto do cotovelo, perto de um balde de gelo em prata e de uma garrafa de scotch. Olhou para nós preguiçosamente enquanto atravessávamos a relva. A dez metros de distância parecia ter montes de classe. A três metros parecia uma coisa feita para ser vista a dez metros.»

A ironia e o atrevimento é a pedra de toque desta escrita que ainda resolve envolver de cumplicidade, quase de ternura, as outras tantas personagens.

Ler Raymond Chandler ilumina e diverte muito as tardes de Verão, ensina a ler e porque não, deixa muitas pistas para quem gosta de escrever.

Nunca digam mal da literatura policial, principalmente a de Raymond Chandler.

Uma nota de especial para a boa tradução de Maria Dulce Teles de Menezes e Salvato Teles de Menezes.

jef, julho 2024

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