Existe em «Djon África» qualquer coisa de profundamente
genuíno, de cinema empírico, desse cinema que corre atrás das personagens que
são actores, que são, eles próprios, figuras reais que ali (aqui) transformam a
sua verdade com plasticidade e encanto.
A história é simples e urgente, comum. É o mote para seguirmos
a viagem de Djon África, John Tibars, Miguel Moreira, afectuoso e desengonçado,
puro e sensível, trabalhador eventual na construção civil, nascido numa vaga e extensa
Lisboa. Ele deseja conhecer o pai cabo-verdiano que esteve preso e depois
(talvez) tenha regressado para a cidade da Praia, em Santiago.
Os realizadores João Miller Guerra e Filipa Reis deixam-se
cativar pelo fluir da sinceridade de um povo, pelo modo de todos os
personagens-figurantes se entregarem à câmara como se entregam à vida, ao funaná,
à festa, ao grogue. Simplesmente assim, sem nunca fazer dogma da Música de um
dos países mais musicais do mundo; sem a presunção de querer, mais ainda, embelezar
aquelas paisagens eruptivas e maravilhosas; sem querer elevar
aristocraticamente a vocação intuitiva de um Povo, em jeito da política turística de “Verde Gaio /
António Ferro”.
É muito bom irmos pendurados atrás da vaneta que nos dirige
até às praias do Tarrafal ou acompanharmos o humor enlouquecido e solitário de Bitori
Nha Bibinha. Tudo corre bem, afastando-nos tanto do nefasto documentarismo, como
do teatral e genial Pedro Costa («Casa de Lava», 1994). Contudo, no final, não
existe o golpe de mestre, a centelha de fulgor, o tal segredo que nos deixa em equilíbrio instável
como quando assistimos às obras maiores do cinema.
Falta-lhe aquele “panache” como diria, por fim, Cyrano de
Bergerac!
jef, dezembro 2018
«Djon África» de João Miller Guerra & Filipa Reis. Com Bitori
Nha Bibinha, Isabel Muñoz Cardoso, Miguel Moreira, Patricia Soso. Brasil /
Portugal / Cabo Verde, 2018, Cores, 96 min.
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