«Sommerlek est le plus beau
des filmes», disse Jean-Luc Godard. Depois escreveu mais, muito mais. Parece que Bergman não
apreciou muito o estilo, o pedestal, o ‘elogio-elegia’ mais do autor do que de
análise ao filme.
A realidade é que «Um Verão de Amor» é uma obra de uma beleza
arrasadora e com uma construção narrativa perfeita onde a mestria de Bergman
está contidamente à solta. Um enorme flash-back conta a história de dois amigos
que se tornam amantes numas férias de Verão. Marie é uma Maj-Britt Nilsson luminosa
e sombria que percorre a mesma ventosa floresta, agora invernosa, o mesmo
palacete envolto numa poalha dourada de um Verão eternamente cristalizado na
memória. O diário de Henrik (Birger Malmsten), escrito nesse Verão, separa as
águas deste melodrama cujo final o transforma, afinal, numa espécie de epopeia
triunfante, em poema épico e deslumbrante.
O filme move-se num mundo tão romântico e desabridamente
libertador como num mundo povoado de penumbras e presságios, como a cultura
greco-latina gostava de emoldurar os seus dramas.
A tia de Henrik (Mimi Pollak), jogando o xadrez de Bergman
com o padre (Gunnar Olsson), lança-lhe uma praga, quase lei. Erland, o tio de
Marie (Georg Funkquist), propõe uma longa viagem onde a construção de muros se
torna eficaz. Elisabeth, a tia de Marie (Renée Björling) , lança um véu de censura e silêncio sobre a
sala. Uma ave de rapina pia. Tudo é clássico. Tudo é romântico.
Copellius (Stig Olin) director do teatro, surge na sombra
nocturna, mascarado de palhaço, e diz a Marie que só se consegue viver destruindo
os muros. Marie desmaquilha-se ao espelho e confessa em voz-off que
estranhamente se sente feliz. O bailado «Copelia» de Delibes vai começar.
«Um Verão de Amor» é irresistivelmente soberbo.
jef, dezembro 2018
«Um Verão de Amor» (Sommarlek) de Ingmar Bergman. Com
Maj-Britt Nilsson, Birger Malmsten, Alf Kjellin, Annalisa Ericson, Georg
Funkquist, Stig Olin, Mimi Pollak, Renée Björling, Gunnar Olsson, Christopher
Lee. Fotografia: Gunnar
Fischer. Música: Erik Nordgren, Delibes, Tchaikovsky. Suécia, 1951, P/B, 96 min.
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