Não
interessa muito entender por que assim se chama o filme. O facto é que Jafar
Panahi consegue novamente um triplo feito:
1. Dar
aos rostos filmados de muito perto, entre o vidro da câmara e o vidro do jipe,
a fotogenia imprescindível para que o espectador os coloque no centro de um
drama que afinal é uma comédia que talvez seja mesmo uma tragédia. Os lenços, os
xadores, os mantos, são de uma beleza paisagística imensa… tal como já o tinham
sido em «Shirin» de Abbas Kiarosmaki (2008).
2. Colocar
na base da intriga as novas tecnologias e a modernidade da realidade falseada
através de um vídeo que simula o suicídio da jovem Marziyeh que
pretende angariar a simpatia da famosa actriz Behnaz Jafari
que, em desespero e interrompendo as filmagens onde participava, pede ao
realizador Jafar Panahi que a leve ao local da tragédia.
3. Fazer
um falso filme sobre a realidade de uma falsa verdadeira intriga em que os actores Behnaz Jafari, Jafar Panahi
e Marziyeh
Rezaei fazem de si próprios e todos os figurantes da aldeia do Norte
do Irão são os actores principais de um país cuja cultura transcende a própria
vocação de Jafar Panahi em realizar «não-filmes».
Uma brincadeira mesmo muito séria sobre a condição humana e a sua consciência.
jef,
junho 2019
«3 Rostos» (3 Faces) de Jafar Panahi.
Com Behnaz Jafari, Jafar Panahi, Marziyeh
Rezaei. Irão, 2018, Cores, 100 min.
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