É importante olharmos nos olhos Orson Welles e ficarmos na eterna e hipnótica dúvida.
Porque com este filme torna-se evidente que jamais saberemos quem foi Orson
Welles.
O
invulgar caminho narrativo que o realizador Mark Cousins faz (através de uma terna
e devota voz-off), entre a reverência, o espanto, mas também a provocação,
descrevendo a desconhecida obra gráfica do realizador, dá-nos a ideia de uma
investigação que jamais terá um fim, de uma história que não chegará a qualquer
conclusão.
Afinal,
Orson Welles era um artista plástico, um político aguerrido, um louco
visionário, um peão de brega, um cavaleiro Quixote, um rei deposto, um bobo de
coroa real (os capítulos!)? estaria ele assim tão seguro nas suas viagens, nas suas paixões? Por
que pintava e desenhava assim o que lhe passava pela frente?
Qualquer
coisa entre Macbeth e Ivan, o Terrível? Ou mais perto de Charles Foster Kane ou
de Harry Lime ou de Michael O’Hara? Citizen Kane, Terceiro Homem, A Dama de
Xangai? Quais os labirintos de planos e espelhos, de prédios e ruas, melhor o
descreverá? (Terão Paola Mori ou Rita Hayworth sobrevivido?)
Terá
Orson Welles vencido ou desistido? Os seus filmes (ou a sua estética) jamais o
definirão. Mark Cousins sabe disso e, repito, fá-lo com excepcionais ternura e devoção.
jef,
junho 2019
«Os Olhos de Orson Welles» (The Eyes of Orson Welles) de Mark Cousins
Grã-Bretanha, 2018, Cores, 115 min.
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