sexta-feira, 28 de junho de 2019

Sobre o filme «Linhas Tortas» de Rita Nunes, 2019
















Existe na primeira longa-metragem de Rita Nunes qualquer coisa de muito sólido, cativante, que faz o espectador ficar atento e de olhos bem abertos, avisado desde logo que está perante um melodrama de contornos clássicos, desses cuja verosimilhança e coincidências não devem ser atribuídos à realidade mas sim à intriga novelesca.

Rasputine, alter-ego de twitter de António (Américo Silva), escritor e cronista, homem bem poisado na vida, torna-se ‘cúmplice’ da jovem actriz Luísa (Joana Ribeiro) que anda um pouco de cadeias às avessas com o seu ‘pouco’ namorado inglês. Depois, há um acidente em plena Avenida da República lisboeta e a história dá uma reviravolta. Familiar.

A fotografia de Manuel Pinho Braga mostra uma bela Lisboa fora do tempo, plástica e dócil, longe do bulício actual Airbnb, onde as caras dos actores são colocadas emocionalmente frente ao nosso olhar. Os diálogos são interessantes sem roçar a presunção. As cenas sucedem-se esteticamente rigorosas sem pedir meças. O enredo parece-nos entusiasmar. Contudo, pelo meio da segunda meia hora, e quando ainda gostaríamos que nos contassem mais, tudo se apressa tornando-se um tanto inexplicado, num filme onde nada deveria estar injustificado.

Contudo, é um filme amável, que dá tanto valor aos actores (Viva Américo Silva!) quanto ao prazer cinéfilo do espectador. Um filme que tanto reverencia a história do cinema português quanto dela se afasta. Um bom sinal para a arte futura da realizadora Rita Nunes.

jef, junho 2019

«Linhas Tortas» de Rita Nunes. Com Joana Ribeiro, Américo Silva, Miguel Nunes, Ana Padrão, Manuel Wiborg, Maria Leite, Elmano Sancho, Jorge Vaz Gomes, Joana Pais de Brito. Produção: Paulo Branco; Fotografia: Manuel Pinho Braga. Portugal, 2018, Cores, 68 min.

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