quarta-feira, 3 de julho de 2019

Sobre o livro «Os Amores Difíceis» de Italo Calvino. Dom Quixote, 2019. Tradução de José Colaço Barreiros.

 













São 13 histórias escritas por Italo Calvino entre 1949 e 1967, pela primeira vez assim reunidas em edição portuguesa. São 13 aventuras representantes do estado de miniatura, minúcia e, digamos, materialismo afectivo, que ensopa toda a sua escrita. Como se fossem 13 exercícios psico-filosóficos sobre o ‘acto amoroso’, esse que, ao longo dos dias e dos anos, ficará eternamente para trás em detrimento das circunstâncias que o criou ou despoletou.

Desde «A Aventura de um Soldado» ou «A Aventura de um Bandido» ou «A Aventura de uma Mulher Casada» que marca a vertente emocional de uma certa luta de classes, até «A Aventura de um Fotógrafo», «A Aventura de um Poeta» ou «A Aventura de um Míope» marcando o existencialismo da vocação criativa face à insatisfação da imagem concretizada.

O apuro narrativo-descritivo de «A Aventura de uma Banhista», «A Aventura de um Viajante» ou a derradeira «A Aventura de um Automobilista» eleva este conjunto de contos à bitola académica dos textos que devem ser tentados e copiados por todos os que desejam escrever!

Felizmente, uma réstia de esperança (ou entendimento) reside no maravilhoso ‘desencontro horário’ de «A Aventura de um Casal».

Italo Calvino é único no pormenor libertário, na busca do reflexo fantasioso do mundo que brilha no cristalino de quem o está a olhar. A reler, sempre!

Pena ser a tradução de José Colaço Barreiros apressada e pouco exigente, pouco revista, sem ter em conta as devidas diferenças sintácticas ou diegéticas entre o italiano e o português. Mais do que em qualquer outro autor traduzido, o mérito da tradução está no pormenor. Está na vírgula que conduz sem tropeções a leitura pelo brilho aquático e mediterrânico de Calvino. Não é o caso.

jef, julho 2019

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