O conselheiro de estado tem 45 anos, vive em Budapeste e acabou
de enviar ao ministro um documento que, no dia seguinte, quando for divulgado
poderá alterar o destino da Europa. Os diversos continentes alinham-se perante
a estratégia nazi. Paris (ou Vichy) teve a sua estratégia. A Húngria poderá ter
outra. O homem vive na ressaca de um velho amor que desapareceu abruptamente
mas sobrevive de modo tranquilo entre guerras e as memórias que se repetem.
Nessa mesma manhã uma jovem finlandesa pede-lhe para ser recebida. Precisa de
emprego, talvez protecção. À noite, ele irá ver o «Baile de Máscaras» à ópera
de Budapeste.
Ao longo de um dia e uma noite, o conselheiro perceberá que
as memórias (ou a vida, talvez as guerras) não se repetem mas sobrepõem-se.
Sándor Márai que, a dada altura do livro, parece, ele
próprio, perder-se numa série repetida de genes, ‘matizes’, imagens e ideias
fixas, permanece como escritor fora de época, ou fim de época, no seu tom
cuidadoso, mais existencialista e psicanalítico que romântico. Talvez
oitocentista, zweiguianista, que sempre nos deixa numa aura ou penumbra
irremediáveis face a um tempo passado de que só a memória, que podemos alterar
a qualquer momento, nos salvará.
jef, julho 2019
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